Estátuas para representar vida
Uma tardinha de domingo dessas, passeando, dei de cara com aqueles mausoléus; aquelas formas inanimadas estáticas de esculturas que ornavam lugares específicos, túmulos de pessoas desconhecidas para mim. Estavam lá passando um ar de abandono, esquecimento, um ar do nada, do não vida.
Apesar de estarem rodeadas por algumas árvores ou galhos secos de árvores mortas, ainda assim, eram nada; apenas pedras em formato de cruzes, cobras, pequenas casinhas, mulheres esculpidas na forma greco-romana, anjos, e por aí vai. Símbolos e mais símbolos do nada. Alguém, lá em baixo, já existira algum dia. Não sei quem eram, do que gostavam, mas sei que tiveram uma história, tiveram filhos, animais de estimação, amores eternos, ou até mesmo deixaram, alguns deles, quem sabe, contribuições para a ciência; talvez médicos, advogados, pessoas importantes para o olhar da sociedade, ou apenas zés-ninguém, que passaram corriqueiramente pela vida sem muitos efeitos. Mas eram, todos, vida; e toda vida é importante.
Como poderiam, então, aquelas estátuas sem vida representar alguém que já tivera vida? Mas os anjinhos de pedra estavam lá, protegendo aquele pequeno espaço de terra que é necessário para sepultar algo que já foi uma vida, agora não passando de matéria orgânica decomposta, algo sumindo a cada dia, desaparecendo por entre as tábuas de um caixão de rico ou de pobre. Tudo acabou no instante do último respirar, que pena!
Fui embora olhando para trás, pensando em toda aquela extensão de terra reservada para guardar coisas sem vida. E que, talvez, o intuito fosse o de que quando alguém pensar em quem já se foi, saiba exatamente onde está (apesar de não estar), com uma lápide marcando o local, dando a impressão de que, de alguma forma, ainda exista alguma coisa dele.