VITORIOSA MORTE DE ACM

Palácio da Aclamação... Salvador... Bahia... o Homem estava lá... no caixão... cheio de flores em volta... familiares tristes, chorando e em estado de choque.

Quem diria... que um dia aquele cara... agora branco e frio... foi o todo poderoso da Bahia, temido por todos... oposição e situação. Que um dia ele fora conhecido como Toninho Malvadeza. Teria mandado matar seu próprio genro por motivos que agora não vem ao caso. ACM passou toda a história da República fazendo conchavos e dirigindo o Brasil com uma inteligência e arrogância sem precedentes. Agora ele estava lá. Frio. Branco. Calado.

Quem mais chorava na volta de um ornamentado caixão era o ACMinho. Coitadinho. Chorava como um moleque perdido no zoológico... aliás é o que ele faz de melhor... chorar. Estava totalmente perdido. Sabia que sem a presença de seu avô nos bastidores políticos ele não seria nada.

Olhei em volta da sala e vi a todos. Todos os integrantes da Organização. Renan de um lado, tentando mostrar sentimentos e condolências... mas no fundo... aliviado de que seu maior opositor dentro da Organização estava fora do jogo.

Renan sabia que esse era a única saída. Estava fragilizado, sem apoio... era um comandante sem comandados. Estava sozinho.

Renan teria que fazer alguma coisa e rápido. Antes que ACM desse seu golpe de misericórdia e tomasse o comando da Organização, abrindo caminho para a terceira geração de sua familia.

Há uns 2 meses atrás... Renan me liga... eram umas 2 da madrugada.

- Zulu... aquí é o Renan... precisamos falar.

- Porra Renan...sabe que horas são? Tem que ser agora?

- Zulu... agora. Estou no Rio... pega o jatinho. Nos encontramos no lugar de sempre.

E desliga.

Merda... sabia que boa coisa não era.

Chego no Rio quase amanhecendo e vou diretamente para a Marina onde Renan estava me esperando em seu iate.

- Grande Zulu... sabia que podia contar com os amigos...

Olho para o Renan... e sinto que as coisas estavam muito pior do que eu imaginava. Renan estava com um ar preocupado. Segurando um copo de uísque e com várias carreiras de coca a sua frente.

- Fala Renan... que parada é essa? Que está pegando?

- Se eu não fizer nada... os caras vão me crucificar. Não posso dar mole.

Senti que não era a paranóia da cocaína. A coisa era séria...

- Zulu... estou perdendo o apoio dentro da Organização. O ACM esta fazendo de tudo para me derrubar. Se ele fizer o que eu estou pensando... posso perder a Presidência do Senado e o comando da Organização. Não posso deixar isso acontecer!

- Tá bom Renan! Qual é a idéia?

- Te lembra de como a Organização deu um fim no Tancredo?

- Lembro... foi lá no hospital... mas faz tempo... não estou te entendo...

- Porra Zulu... te liga... o velho ACM vai se internar para fazer uma avaliação intestinal. E essa é a hora! Não podemos perder essa oportunidade! Mas não posso envolver a Organização, pois meus aliados não estão tão aliados assim....

Caímos na risada...

- Tá bom Renan... deixa comigo. Te vejo no enterro do velho.

Saio do iate e vou direto para o apart.

Ligo para o Dr. Lemos.

- Lemos? Aquí e o Zulu!

- Caceta meu irmão! Quem está vivo sempre aparece!

- Beleza meu velho?

- Tamu aí Zulu! Que manda? Estas afim de um outro carregamento de diatanol?

- Não Lemos... a parada é outra. Preciso fazer um serviço para a Organização.

- Nunca gostei desses filhos da puta... sempre me cobram um pedágio surreal para eu poder vender minhas paradas! Mas se é você que pede... tá pedido!

- Então tá bom... nos encontramos na Lapa para acertarmos as coisas.

Entre um chopp e outro... acertamos todos os detalhes. ACM se internaria no dia 20 em um hospital paulista. Teríamos que agir rápido. Sem envolver muita gente. Lemos conhecia toda a equipe médica. A única coisa que teríamos que fazer era colocar uma enfermeira de nossa confiança para fazer o serviço... E nada melhor do que a enfermeira Betina.

Betina era uma velha conhecida... fazia programa em um puteirinho da Lapa para juntar dinheiro para pagar seu curso de enfermagem e educação especial para seu filho down. Até que nos conhecemos e oferecí mais oportunidades... enfim... ela estava sempre do meu lado.

O dia 20 chegara... e a situação no Senado estava se complicando a cada dia.

Lemos colocara Betina na equipe de enfermagem, no hospital onde ACM teria seu procedimento.

A operação foi um sucesso. ACM teria que ficar em repouso. Era o momento de Betina... ela fez todo o pós operatório como manda o figurino... afinal ela sabia do babado.

A noite ACM deveria receber sua dose de soro. Betina entra no quarto e aplica uma dosagem de soro com potássio... morte instantânea.

O relatório pós morte foi de "infecção e problemas renais e cardíacos".

O Brasil pára. O enterro anda. O Povo celebra. A Bahia chora.

No enterro... Renan observava todos os movimentos. Os integrantes da Organização se aproximavam de Renan de uma forma solene. Para Renan era a volta por cima. Era a absolvição de todos os perrengues no Senado. Enfim... uma vitória.

Mas era apenas uma vitória. Renan sabia que as coisas estavam apenas começando.

ACM colocara como seu suplente para o Senado seu filho... Antonio Carlos Junior. Um homem com sede de vingança e alianças políticas... credenciais perfeitas para fazer de um homem um poderoso político em Brasília.

ACM estava mais uma vez certo... mesmo morto... decidiu o futuro político brasileiro.... e com tremenda maestria.

A guerra estava apenas começando.

Zulu Zumba.