Família Dinossauro, cadeia alimentar e a evolução da consciência
Família Dinossauro, cadeia alimentar e a evolução da consciência
Conheço o seriado da Família Dinossauro, desde os anos 90. Mas, naquela época, eu o via com olhos de criança. Então, depois de um longo hiato, voltei a assisti-lo e comecei a perceber o seu teor crítico à sociedade ocidental, pelos temas dos seus episódios e em como que os personagens se posicionam. Desses, quem mais me chamou a atenção foi Bob, por causa do seu nível de engajamento, inteligência 'e'' idealismo, por sempre perguntar o porquê das coisas, em especial das injustas, sem aceitá-las com naturalidade. Já teve episódio em que ele se tornou vegetariano. Em outro, deixou o cabelo crescer. Em todos, sempre entra em conflito com o pai, Dino. Dino é o típico ''provedor'': carismático, porém preconceituoso, amante de esportes masculinos, trabalhador comum, incapaz de ir muito além da própria zona de conforto. Bob parece ter puxado sua mãe, Fran, muito mais ponderada e sensível. Outra representação de famílias comuns em obras de ficção nós podemos encontrar no Simpsons. Lisa é a filha mais inteligente e 'claro', esquerdista, preocupada com os problemas do mundo, em contraste ao pai minion. Bart seria equivalente à Charlene, mais alienados e intelectualmente limitados do que os seus irmãos.
Eu sempre gosto de olhar pela perspectiva das cadeias alimentares para me referir à maneira como as pessoas pensam, e suas diferenças. Se mais para ''dentro'' delas, o pensamento de adaptação, obediente à sociedade ou ambiente, é dominante, tendo como resultados notórios o egoísmo e a alienação. Se mais para ''fora'' é possível ter uma visão mais panorâmica das relações sociais, culturais e econômicas, perceber equívocos, injustiças e propor soluções. Também é possível perceber semelhanças até então desconhecidas, ainda que possam parecer óbvias depois que passam a ser enfatizadas. Por exemplo, o senso de igualdade de individualidade, como quando Bob quis deixar seu cabelo crescer. Isso é quase inconcebível para o Dino, já que, como um bom minion, precisa seguir o fluxo de conformidade e deixar as madeixas bem aparadas, com seu corte de '' macho''. Concepções, como a individualidade, existem de maneira pouco nítida para o Dino, enquanto são bem evidentes para o Bob. É uma questão de ajustar os óculos da mente, se puder. Quem percebe indivíduos ao invés ou apenas categorias também escolhe pela reciprocidade de tratamento, isto é, o mais igualitário possível. Algumas pessoas aprendem a colorir seu espectro de cores e aceitar mais diversidade. Outras, parece que não têm a mesma capacidade, se só conseguem ver um monocromatismo, claro, a partir de suas zonas de conforto. Taí uma diferença bruta entre eles, entre Lisa e Homer ou Bob e Dino, a zona de conforto. É muito mais fácil deixar a consciência limpa de problematizações necessárias e se ocupar apenas com aquilo que resulta no próprio bem estar. Com isso, falta pouco para justificar todos os tipos de injustiças, pensando no próprio umbigo. Dino e Homer pertencem à gerações e tribos completamente diferentes dos seus filhos, apesar de terem contribuído com seus respectivos DNA. É muito comum termos esses tipos nas famílias. Você pode ser mais como um deles, mais para minion ou mais para consciente. As cadeias alimentares têm definido o comportamento moral das espécies. Os pais desses personagens jovens e idealistas estariam enfiados dentro delas e, portanto, fixos aos lugares que suas sociedades lhes colocaram. Seguem seus ciclos ''naturais' de vida, aceitam injustiças, as naturalizam como inevitáveis ou meritocráticas. Teoricamente, querem o melhor para os seus filhos, que tenham as mesmas vidas que as suas, ou um pouco melhor, em termos materiais, mas, no mesmo ritmo de conformidade e irreflexão. Pais mais ou menos como o Dino gostam de aconselhar os seus filhos que os problemas dos outros ou ''do mundo'' devem ser deixados de lado, para que se preocupem apenas com suas vidas, que é uma tentativa de transferência de valores culturais inculcados de uma longa tradição de obediência absoluta à autoridade e aversão de ir contra marés de conformidade. Bob e Lisa querem um mundo melhor, para 'todos'. Eles são mais perfeccionistas/idealistas, mais intolerantes quanto aos problemas sociais. Enfim, em termos de inteligência, que é o mais importante, eles [estes personagens antropomorfizados] demonstram ser mais evoluídos que os seus pais, por conseguirem ver as cadeias alimentares por uma perspectiva de fora, algo que é único apenas ao ser humano, quer dizer, em média...