Breve depoimento de um ex minion
Baseado em fatos pessoais
Olá, meu apelido é Dolaris. Sou um ex minion. Não sei se sou a maioria da maioria. Mas sei que essa minha condição foi curada e compreendida. De quando eu ainda tinha um cérebro subdesenvolvido e rosnava para o mundo sem saber exatamente porquê, como, onde. Eu voltei em mim, depois de uma estranha experiência fora do corpo, sobrevoando goiabeiras alucinógenas e livros de filosofia e história com páginas em branco. Fui racista contra negros. Hoje aprendi a ser racista com a própria ideia de raça, a procurar por indivíduos e causas fundamentais pras nossas discordâncias, como a personalidade. Fui homofóbico comigo mesmo, tentando manter o corpo de minha vontade dentro de um armário cada vez menor. Vos digo que saí do armário mas continuo no quarto e não tenho a intenção de escancarar pra rua mais do que tenho conseguido. Fui anti-esquerda, sem perceber que minhas críticas não são destrutivas, mas pensando em enxugar os seus excessos. Eu era mais jovem, um sonhador indisciplinado, um minion doméstico e infantil. Já me senti inferior por não ter sangue azul, de esmolar aceitação por parte de grupos neonazistas. Nunca é tarde para abrir os olhos e reconhecer o que é essencial. Já concluí que o capitalismo é o menos pior. Hoje, não me contento com essa mediocridade de "menos pior" ou um "mas funciona". Tolerei intolerantes até perceber o quão odiosos são. Sinto que o meu mapa de realidade faz mais sentido hoje. As palavras ou legendas que uso estão de acordo com suas verdades correspondentes. Monstros não vivem no interior do oceano atlântico, mas dentro de nós; invasões são invasões, parasitismos são parasitismos, classe social ou raça não é alma, respeito é reciprocidade, natural é diverso e o ideal/utópico não é impossível.