Vida de rapaz ingênuo
Eu era as risadas, a descontração, a liberdade. Eu era um pecado que valia a pena cometer. Esse é o epitáfio do meu primeiro caso de amor. Não sei se é algo comum, mas meu primeiro “relacionamento” não foi na condição de namorado, e sim ocupando o lugar que há séculos pertence aos destemidos e suicidas. Eu era o outro. Um jovem amante. Ao meu lado ela ria, desfrutava de um ambiente sempre leve e positivo – eu tinha essa capacidade deixar o ambiente agradável, hoje já não sei onde esse dom foi parar – e não menos importante, eu a desejava e ela sentia isso. E assim, sendo tudo que ela não encontrava no companheiro oficial, eu consegui o seu afeto. Seguimos assim por muito. Acontece que boa parte da vida de um bom amante envolve respeitar determinadas regras. Obviamente que naquela época eu não sabia disso, na verdade eu não sabia de nada, como eu já disse, era meu primeiro caso com alguém que não vestia mais um uniforme escolar. O mundo onde eu reinava soberano começou a ceder no dia em que percebi que ela ficava tempo demais na minha cabeça. Até então eu nem lembrava da existência do seu namorado, mas não sei porque, comecei a despreza-lo. Pois bem, um certo dia ela me ligou para dizer que tinha dado um pé na bunda do seu companheiro. Vibrei internamente. Não demoraria muito para que eu cometesse, sem me dar conta, o pecado-mor. Parei de trata-la como minha amante e passei a trata-la como minha namorada. Óbvio que foi um tiro no pé. Óbvio que ela me deixou pouco tempo depois. Óbvio que meu coração de rapaz ingênuo ficou partido. Porém, essa narrativa não deve ter tons de lamentação. Eu era jovem, me recuperei rápido, tive pessoas para me ajudar (se é que vocês me entendem). Engraçado como as coisas são, hoje, anos mais tarde, com mais dores vividas, lembro dessa história com alegria. Concluindo, assim foi minha primeira história de amor. Simples demais para um boêmio consagrado, mas complexa demais para um Don Juan de primeira viagem.