Sobre o amor
Ele sempre estava sozinho. Estava sentado no sofá, bebendo whiskey, eu o estava olhando pela janela. Tinha uma das mãos na cabeça e não desciam mais lágrimas há meses. Acho que ele nem sentia mais nada, estava perdido.
Ele não esperava por mim, mas estava na hora de eu aparecer. Pousei delicadamente em seu ombro. Em um primeiro instante, ele não viu. Depois ele sorriu, um sorriso genuíno. Fiquei feliz, por que eu sempre o espreitava e nunca vi ele sorrir assim. Então, ele recebeu uma mensagem e saiu. Eu sei que era ela, eu tinha a visitado ontem e desde então ela não parava de olhar suas fotos pelo celular. Ela estava presa num dilema: “chamo ou não chamo?”
Ele estava preso na própria cabeça.
Mas eles se encontraram. Sentaram num bar e conversaram sobre a vida. Ela era filha de policial, estava terminando a faculdade e ele trabalhava como condenado esperando a hora de chegar em casa e curtir toda aquela miséria da solidão que amargava seus lábios. Não, não diga isso!
Ela ficou assustada, deu uma desculpa qualquer e voltou pra casa. Ele continuou no bar e depois voltou pra casa pensando a respeito. Ele tinha perdido a moça e não gostaria de voltar a encontrá-la, mas ele gostaria de voltar a encontrar a sensação do sangue correr pelas suas veias novamente. Ele começou a me procurar.
Ele ficava atento todos os dias no trabalho, olhando pela janela. Ele não ia mais direto pra casa, ele me procurava pelo parque, ele me procurou pelo centro. Ele me procurou no bar. Então ele decidiu tomar a iniciativa, ele procurou mulheres pela internet e chamou para sair. Mas eu não apareci com nenhuma delas. Ele ficou com mulheres nos bares, levou uma ou duas pra casa. Eu não fui junto. Ele pediu uma ou duas em namoro e ficou alguns meses com cada uma, mas eu não dei as caras. Ele começou a se sentir vazio, oco, amargo como se não pudesse amar mais nunca. Eu espero que um dia, em breve, ele entenda que ele não pode me forçar e que eu o acharei quando ele estiver pronto. Estou louco para encontrá-lo distraído de novo.