Palavra Solta - a mocinha de lá longe

Palavra Solta - a mocinha de lá longe

*Rangel Alves da Costa

Sei da existência de mocinhas pelos campos interioranos que são lindas flores. Sei que nos casebres, nas casinholas, nas casinhas de cipó e barro, de vez em quando à janela uma verdadeira princesa aparece. Sei quanta formosura ainda repousa em estado de matutice, sem ainda ter sido afetada pelos modismos e pelos descaminhos urbanos. Sei quanta bela menina fica ainda mais bela com roupa de chita, com chinelo de dedo, com flor no cabelo. Sei quanta palavra falta em muita boca e por isso mesmo até evita aproximação de estranhos ou forasteiros. Acreditem, pois ainda há muita moça bela assim, longe da cidade, embrenhada além dos beirais de estradas, pelos cafundós e outras distâncias. Temo que o passo mostre o caminho e a estrada chegue até a cidade. A doce vestal logo se transformaria num ser totalmente diferenciado, até mesmo porque mais fácil de ser iludida pelo novo e traiçoeiro. Como eu queria avistá-la sempre assim, como um jardim além da porteira, após a cancela, como flor à janela. E eu, também poeta matuto, inventando um verso de encantar caboclo coração: Oh minha linda tão bela, ao vê-la acordei do sonho para novamente sonhar perante o teu meigo olhar!

Escritor

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