Coração Dilacerado

Um coração dilacerado, onde ninguém tocou. Um lugar inóspito, selvagem, hostil...

Talvez tranqüilo, porem, agora perigoso.

Não há álibi que o livre de um erro, nem um Cristo salvador que o salve da cólera de seu próprio desejo.

Devassando seu olhar no espelho, nem mesmo ele, o dilacerado, sabe como ainda consegue fitar-se... Uma frágil figura sem rosto.

É fácil fazer coisas quando não se tem uma real imagem no espelho...

Uma imagem triste, desfigurada e transparente. Não por simplicidade, mas por falta de cor, pálida. Uma imagem ávida de sangue, vida...

Na memória, ainda o som dos açoites...

E o vento não parou com as pancadas enquanto até que não houvesse mais esperança. Pois dizem que é a única que não morre, e se morre... É a ultima.

A um coração dilacerado, inquieto... Que fala fraco, que escuta em mudo, sente em carne viva.

Fragilizado e ainda sim com um olhar determinado no espelho... O pulso, ainda pulsa.

As feridas sempre saram;

A cor sempre volta;

A tempestade cessa, uma hora ela cessa...

E quando o vento passa, a poeira baixa... Lá esta ele, regenerado, colorido, empoeirado por ter se dado horas a fio, e tendo ela em seus braços...

Tudo recente.

Os açoites, o punhal que ninguém viu, sua imagem no espelho, seu olhar quando lembrou que estava ali apenas por que viu, observou, sentiu o gosto de um olhar de anjo...

A tem em seus braços.

Não conhece seu rosto, nunca viu seus lábios, nuca os tocou.

Mas aquele olhar... Aquele sim ele conhece. Foi o que o dilacerou. Foi por ele que lutou na tempestade. Foi por esse olhar, que ao chegar ao fundo do poço, ergueu-se sobre seus próprios pés... Embotado de suor e lagrima. Ávido de sentir em sua direção, em sua vida, em seus braços. Um rosto angelical com um olhar de anjo.

Edson Duarte
Enviado por Edson Duarte em 27/09/2007
Reeditado em 24/08/2008
Código do texto: T671291
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