Coração Dilacerado
Um coração dilacerado, onde ninguém tocou. Um lugar inóspito, selvagem, hostil...
Talvez tranqüilo, porem, agora perigoso.
Não há álibi que o livre de um erro, nem um Cristo salvador que o salve da cólera de seu próprio desejo.
Devassando seu olhar no espelho, nem mesmo ele, o dilacerado, sabe como ainda consegue fitar-se... Uma frágil figura sem rosto.
É fácil fazer coisas quando não se tem uma real imagem no espelho...
Uma imagem triste, desfigurada e transparente. Não por simplicidade, mas por falta de cor, pálida. Uma imagem ávida de sangue, vida...
Na memória, ainda o som dos açoites...
E o vento não parou com as pancadas enquanto até que não houvesse mais esperança. Pois dizem que é a única que não morre, e se morre... É a ultima.
A um coração dilacerado, inquieto... Que fala fraco, que escuta em mudo, sente em carne viva.
Fragilizado e ainda sim com um olhar determinado no espelho... O pulso, ainda pulsa.
As feridas sempre saram;
A cor sempre volta;
A tempestade cessa, uma hora ela cessa...
E quando o vento passa, a poeira baixa... Lá esta ele, regenerado, colorido, empoeirado por ter se dado horas a fio, e tendo ela em seus braços...
Tudo recente.
Os açoites, o punhal que ninguém viu, sua imagem no espelho, seu olhar quando lembrou que estava ali apenas por que viu, observou, sentiu o gosto de um olhar de anjo...
A tem em seus braços.
Não conhece seu rosto, nunca viu seus lábios, nuca os tocou.
Mas aquele olhar... Aquele sim ele conhece. Foi o que o dilacerou. Foi por ele que lutou na tempestade. Foi por esse olhar, que ao chegar ao fundo do poço, ergueu-se sobre seus próprios pés... Embotado de suor e lagrima. Ávido de sentir em sua direção, em sua vida, em seus braços. Um rosto angelical com um olhar de anjo.