Futebol, meu encanto
A vitória épica
Início da década de 80, a manhã era ensolarada e a arquibancada de madeira do Estádio do Nacional em Guadalupe estava lotada de torcedores fanáticos da equipe "Chega Mais", um time repleto de craques e ex-jogadores profissionais.
O União Futebol Clube estava a se concentrar no gramado com seu atrevido escrete de jogadores amadores a observar a garra dos torcedores adversários, todavia, havia o Evaldo Bunda Loira que com sua elasticidade e segurança seria capaz de defender qualquer chute do atacante de área Maurício (América). A zaga composta pelo jovem Edimilson e o experiente veterano Donato estava a dominar em seu território qualquer investida do inimigo, Carlos Antônio, o preciso lateral direito fazia o seu feijão com arroz e nada passava, pois dominava tranquilamente a grande revelação do bairro Carlinhos Capixaba (Rio Branco de Araraquara), o outro nosso lateral, Tatá, com suas pernas tortas esbanjava categoria sobre o arrogante atacante Abelha, a meiuca formada por Serginho, Marcelo e Mauro, um galego baixinho que comia a bola, colocava no bolso o famoso craque de futebol Alves (Flamengo e Campogrande) que um dia colocara o tricampeão do mundo Gérson Canhotinha de Ouro no banco, segundo as estórias dos antigos boleiros e nosso ataque composto pelo grande driblador e corredor Beto Damião, o centro-avante do peito e da raça Geraldão e Dudi, o clássico fazedor de belos gols.
A grande vitória começa com a surpresa de um gol sofrido logo nos minutos iniciais quando a galera aquecia o tablado e pedia demasiadamente uma goleada, tal qual era de costume. O nosso time não se intimidou e com um primeiro tempo impecável alcançou o empate com uma arrancada sensacional de Beto Damião que fuzilou o canto esquerdo do goleiro a estufar as redes e começou então a nossa grande exibição de futebol. A bola era rolada de pé em pé, a bola viajada era matada no peito pelos nossos zagueiros e distribuída pelos nossos alas de forma redonda, o meio de campo buscava sempre a ponta direita e encontrava o Beto Damião que com sua habilidade e explosão só faltava fazer chover sobre a defesa adversária a deixar os nossos goleadores sempre em condição de marcar, porém, os defensores tinham um grande poder defensivo liderado por Paúra (Madureira).
Mas algo inusitado acontecera durante o jogo:
Após uma entrada forte do polivalente Marcelo em Alves, foi ouvido somente por nós uma estúpida frase:
- Isto aqui é Maracanã lotado.
E a resposta inesquecível do modesto jogador bom de bola foi:
- Poxa! Sou seu fã e vim aqui, hoje, pra te ver jogar.
Estas palavras adentraram nos caracóis do ouvido daquele atleta tão prepotente que o paralisou e suas pernas perderam o poder de criação.
Era a hora da virada e ouvimos modestos berros a nos incentivar que foram gradativamente transformados em gritos de "Gooooooooool" quando Serginho deu uma gingada de corpo no adversário a invadir a área e com um leve toque na pelota, tirou do goleiro. Era a virada com direito a um estrondo da torcida adversária e logo o juiz apontou para o centro do gramado.
Quando saímos do campo em direção ao vestiário fomos recebidos com aplausos da torcida rival e ficou marcado naquele campo que não existe mais o grande placar épico:
"UNIÃO 2 X 1 CHEGA MAIS"
Quando estávamos comemorando o grande triunfo, surgiu nas mãos do Geraldão uma pataca de dinheiro para pagar toda a iminente despesa vinda de um desconhecido torcedor que falara ao nosso líder:
- Eu apostei uma grana no time de vocês.