Diário de Bordo (Pedal, Endorfina e Análise de Discursos)
Diário de Bordo (Pedal, Endorfina e Análise de Discursos.)
Durante o trajeto que fiz pela manhã, pedalando de bike desde Itabuna, me chamou a atenção dois eventos, entre tantos outros que me torpedearam ao longo do percurso até atingir o meu destino final já na zona rural de Olivença.
Não desci da bike em nenhum desses dois eventos; no entanto, os mesmos ficaram grudados em minha mente, a espera de uma oportunidade para virem a tona.
O primeiro desses eventos em que o meu olhar pousou foi um nutrido grupo de bikers em suas roupas multicoloridas, parados no acostamento da rodovia BR-415 em sentido contrário ao que eu percorria, e que, à minha passagem, me cumprimentava numa alegre e efusiva algazarra de reconhecimento de um de seus pares. (Os danados me deixaram com vontade de fazer meia volta, atravessar a pista e degustar daquela alegre cumplicidade, da noção de pertença que aquele grupo de homens e mulheres me passaram.)
Seguindo em frente, após algumas subidas e descidas suaves, cheguei ao povoado de Salobrinho, já penetrando no município de Ilhéus, e nesse local, à minha direita, uma velha senhora, empacotada em vestes surradas, estava sentada num plano mais alto, com uma das mãos segurando o queijo e o olhar esgazeado perdido em algum exo-planeta que só ela percebia... (A estranheza que me atingiu, a noção dos vários mundos que nos circundam, me incomodou muito, e também ali eu queria parar e fotografar aquele rosto prestado pelo sol, com os cabelos escondidos por panos cuja cor já não era possível definir.)
Tendo como mote esses dois eventos antagônicos, meu pensamento voou para os nossos múltiplos discursos, como eles são construídos e constituídos, qual a mensagem, ou mensagens que queremos passar para o mundo em que estamos inseridos, e que a todo momento nós observa como um lobo faminto faz com a sua presa. O próprio mundo que nos envolve e observa é também alvo de nossa observação, seja essa observação atenta ou desatenta, provida de ferramentas especializadas, ou simplesmente munidas das vivências do observador.
Enfim: já em minha toca, lagarteando após a pedalada, envolvido por doces nuvens de endorfina, meu amigo Lucas me propõe falar de um pensador germânico que faz a afirmação de que a interpretação de uma análise discursiva será sempre incompleta e parcial, pois a mesma se dá a partir de fragmentos discursivos daquele ser que está sob o processo de análise que estamos a elaborar. (Acho que o nome do sujeito é Van der Berg, e o mesmo estava fazendo uma análise da fenomenologia em Heidegger. )
Pois bem. O que respondi ao Lucas, foi que toda análise parte de fragmentos, visto que o todo do objeto observado só pertence ao próprio objeto, e desse todo nem mesmo o objeto que o possui o apreende totalmente.
E eis que a madrugada me apanha emaranhado na análise das disparidades que compõem o nosso mundo...