Memórias do tempo da escola
Se todos os adultos descrevessem e relatassem, sem distorções propositais, sem adição de comentários, o que viu e vivenciou, nas escolas que frequentaram, há 20, 30, 40, 50 anos, e dessem a público tais registros, os brasileiros conheceríamos a verdadeira extensão da decadência da escola brasileira, da sua degradação, e ninguém mais haveria de acreditar que a sua má qualidade é resultado de uma política que se iniciou ontem.
*
As salas-de-aulas, nos meus anos de estudante, eram locais em que se promoviam badernas homéricas. Os alunos não tinham interesse em estudar, e os que tinham não encontravam o estímulo para fazê-lo; e os professores não tinham interesse em ensinar, e muitos deles ignoravam a matéria que lecionavam, e os que eram dedicados ao ensino não encontravam, na escola, a estrutura apropriada, em especial os das áreas científicas (biologia, física e química), que lhes propiciasse os recursos imprescindíveis à transmissão do conhecimento.
*
Estudei em 4 escolas (excluindo-se a do pré-primário). Nenhuma delas tinha estrutura apropriada para os estudos. Na biblioteca das escolas, meia dúzia de livros. E em todas elas o ambiente não era estimulante, não era apropriado aos estudos. Alunos não estudavam; professores não ensinavam. Eu seria injusto com alunos e professores, se generalizasse: havia os alunos estudiosos, e os professores dedicados - eram as exceções que confirmam a regra.
*
Estudei, no pré-primário, em 1977, 1978 e 1980; cursei, de 1981 a 1988, o primário, de 1989 a 1991, o colegial, e, nos anos de 1992 a 1995, a faculdade. Não me recordo de como era o ambiente escolar no pré-primário e na primeira série. Minhas lembranças deste período são vagas. Recordo-me, unicamente, do nome das professoras e de alguns alunos, de cujos nomes não me lembro. Dos anos seguintes tenho muitas lembranças, e no que diz respeito aos professores, digo: apenas um deles eu o chamo de Professor, assim mesmo, em inicial maiúscula, o único que, além de dedicado, apaixonado, digo, pelo ofício de ensinar, tinha maturidade e senso de responsabilidade raros, e amor pela matéria que lecionava. Dos outros professores, só posso dizer: muitos eram dedicados ao ensino, mas despreparados, não poucos eram indiferentes aos alunos, e não eram raros os que faziam da sala-de-aula um local angustiante para si mesmos, e para os alunos, ao descarregar sobre nós seus ressentimentos, suas angústias, suas frustrações.
*
Hoje em dia fala-se em doutrinação nas escolas. E muita gente pensa que esta questão é nova. Que nada. Nos longínquos anos de 1989, 1990, 1991, eu, no colegial, ouvia professor desperdiçando metade das aulas enaltecendo, descaradamente, PT e Lula. O problema é antigo, mas só agora está sendo enfrentado.