Agora eu viro homem

Com as mãos no rosto o jovem procurava se esconder da vergonha que sentia. "Como fui fazer aquilo", ele dizia.

Não foi e nunca será possível desfazer o passado e esta era a lição mais dura que ele aprendeu. Naquele momento o remorso lhe atacava o ânimo. Melhor seria morrer.

Sentir-se mal desta forma nunca foi positivo. Bem na verdade, os sentimentos não podem ser valorados desta forma. Triste ou alegre, feliz e assustado nunca sofrerão juízos de valor.

O valor de um sentimento vem do que fazemos com ele. Nosso jovem acabou de aprender que aquilo que é feito está na história e nada pode apagar. Mesmo que ninguém mais saiba, que seja um segredo dele com Deus, ainda assim existira.

Ele então, aos poucos, desenterra a cara das mãos e começa a olhar para o fruto terrível de seus atos medonhos.

Vê ali aquela fraqueza exposta. Aquilo que antes era forte e vivo está morto por sua culpa. Ninguém mais no mundo há a culpar senão si mesmo.

Lhe faltou a coragem e a hombridade de agir como homem. Nunca é tarde para agir como homem, mas a cada dia que passa fica mais difícil tornar esta resolução verdadeira.

Pegou o telefone e discou o velho conhecido número. Aquele número que começou a povoar sua mente nos tempos de escola. Ouviu do outro lado a querida voz feminina, mas não teve coragem de falar, não ainda.

Olhou para a outra e disse-lhe com dor: "O que aconteceu aqui foi errado. Você tem parte nisso, mas nunca parte maior do que eu. Peço perdão se algo te fiz e nunca mais quero te ver."

Assim que aquela presença deixou o recinto ele se pôs àquela sujeira limpar. Não seria um processo fácil, mas de algum ponto ele tinha que começar. Começou dizendo, "agora eu viro homem".