Estranho mundo vazio

O sol apareceu finalmente. Depois desses últimos dias nublados. Mas o frio continuava em contraste com o sol invadindo o pequeno apartamento em Botafogo.

Ele chegou no Rio dois dias antes, arrumou as malas, limpou o apartamento, cuidou das compras. Na quinta foi ao prédio do jornal na Presidente Vargas, Conversou com o diretor e acertou tudo para começar o trabalho na segunda.

Além do fim de semana, ganhou dois dias de folga e se prepara para o trabalho no jornal. Era escritor e de vez em quando dava aulas particular numa cidadezinha lá em Santa Catarina.

Aproveita a manhã de sol para dar um passeio pelo bairro. Apesar dos prédios altos, Botafogo lhe dava um ar nostálgico uma certa paixão e saudade de uma época não vivida.

Enfiou as mãos nos bolsos e caminho pela rua movimentada. Passou frente a casa de Rui Barbosa, captando a essência da casa, do jardim, das pessoas. Passou pelo metrô e sentou- se num banco, dos bolsos da jaqueta jeans tirou maço de cigarro e isqueiro. Acendeu. Deu uma longa tragada, e dedicou um tempo olhando o cigarro aceso, suspirou e desviou o olhar. Observa as pessoas. Apoia o cotovelo na mesa. Mais uma tragada. Deixa a fumaça escapar pelos lábios entre abertos.

Olhava as pessoas andando, apressadas, olhando pros celulares ou tablets. Pensou: "Olha só, na maioria das vezes às pessoas não vivem o momento. Não estão presente no presente. Eu também me encaixo, quase sempre estou na nostalgia do passado. E essas pessoas estão sempre ausente de corpo presente."

Sorriu com a besteira que pensava mas tinha sentido. Fumou. Viu um casal de mãos dadas, ele deslizava o dedo na tela do celular, respondendo "Unrum, unrum" sempre prestar a atenção nas palavras da namorada. Também viu duas moças olhando o celular animadas distraídas. Uma mãe olhava o celular enquanto o filho ficava com o rosto colado no tablet assistindo algum desenho animado. Que mundo cão!

As pessoas estavam sempre falando com pessoas qie não estavam presentes. Ausentes no hoje, torcendo pra hora passar. Enquanto se distraem a morte chega.

"E quando a morte bate na sua porta. O que pensam? A tecnologia trouxe bênção e maldição."

A preocupação com o que acontecia nos seus perfis na rede era mais importante que a vida vivida? Se perguntou. Fumou o último trago. Sentiu o sol. Lembrou da pergunta cantada pela Cássia Eller "O que está acontecendo o mundo está ao contrário e ninguém reparou"

Sorriu triste.

Wesley Curumim
Enviado por Wesley Curumim em 19/07/2019
Reeditado em 19/07/2019
Código do texto: T6699929
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