Prisão sem grade, e uma consciência que o atormentava….

Puxou a cadeira e sentou ela é sua companheira fiel, ali podia ver o tempo passar pois ele está bem enfrente a rua. Com a visão limitada, o mundo parece ser mais sufocante com a realidade que o visitou de forma repentina. Sente inebriado, entorpecido pelo ocorrido, sente falta da tal liberdade, da independência e pergunta a si, a razão desse quase silêncio completo. As lágrimas não vêm. Secaram ou hibernaram na confusão de seus pensamentos, aguardando o momento exato da erupção, do desmoronamento, da queda.

Avista brincando perto dele um menino que aparentava ter dois anos. O que isto importava? Nada, mais o distraia, com seu olhar perdido ali estava. O que importa chorar na solidão que sente? Ninguém o verá, ninguém saberá, ninguém se importará. Parece que o mundo tem se afastado, isolado em um cubículo, em uma caixa que costumava chamar de apartamentos. A dor alfineta seu coração. Ouve vozes com a entonação delicada e atenciosa a pronunciar seu nome. O coração aperta mais uma vez. A criança ainda está brincando. Ouve um som, é um helicóptero que sobrevoa a cidade. O vizinho dá um grito de gol e comemora. Não sabe quem joga e também não se importa. Ninguém se importa com ele, porque haveria de importar-se com os jogadores de futebol que ganham fortunas para brincar como crianças e correr atrás de uma bola.

Hoje não ligou o rádio. Nem o iPod. Nem o celular. Sua trilha sonora é composta pelos ruídos da cidade que inicia até seu recolhimento noturno, cansado, ali passa o dia, em câmara lenta a cidade se aquieta. Agora está só, o menino se foi a muito.

Reclinou a cabeça apoiando-a no encosto da cadeira. Fecho os olhos e respiro fundo. A pressão sobre seu peito roubou o ar. Respirou lentamente e profundamente. Se tiver um enfarte agora, ninguém se importará. Se morrer agora, ninguém se importará. Se hoje fosse seu aniversário, ninguém se importaria. Se a felicidade existisse, ele também não se importaria.

Levanta mais a cabeça que esta apoiada no encosto da cadeira. Aperta mais os olhos que estão fechados, e continua a respirar fundo.

A imagem do menino brincando diante de sua casa aparece. Só que tudo não passa de miragem, ninguém está ali, está só. A rua, esta vazia. Não sente fome, apesar da hora e de não ter comido nada. Quem se importa em perder tempo com alimentação num momento destes? Nova pontada no peito, agora, um pouco mais forte. Respira fundo. Tosse forte para aumentar a circulação sanguínea. Alguém lhe disse uma vez, que isto ajudava. Não tem a menor ideia se funciona, começa a suar frio e percebe que o físico se rende ao psicológico. Curva-se com a dor. A respiração se torna difícil, a dor aumenta e caio desfalecido no chão.

Jova
Enviado por Jova em 15/07/2019
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