No Caminho com Maiakóvski

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”

Dos mais conhecidos da literatura brasileira, durante muito tempo, esses versos tiveram sua autoria atribuída ao poeta/escritor Wladimir Maiakovski. Imagina-se que o anarquista Roberto Freire, escritor paulista, tenha dado um "empurrão", ao colocar parte do poema na epígrafe de "Viva Eu, Viva Tu, Viva o Rabo do Tatu", conferindo-lhe involuntária paternidade ao famoso autor de origem russa.

Em outros momentos, alguns críticos literários passaram a vinculá-los à obra de Eugen Bertholt Friebdrich Brecht
extraordinário poeta e dramaturgo alemão, nascido no século XIX.

Posteriormente, por uma série de equívocos históricos, no imaginário de muitos a autoria migrou para outros grandes escritores 
— o colombiano Gabriel Garcia Márquez (NOBEL da literatura e autor do épico "100 Anos de Solidão"); ou do psicanalista austríaco Wilhelm Reich, um dos principais discípulos de Sigmund Freud.

Traduzidos em vários idiomas, até citados em novela Global de Manoel Carlos, os versos de "
No Caminho com Maiakóvski" eram declamados pelos estudantes que contestavam a Ditadura Militar, instaurada no país, nos idos dos anos 60 e 70... conjuntamente, com a frase/pensamento atribuída a Che Guevara "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás" e à atemporal música de Geraldo Vandré "Pra não Dizer que não Falei de Flores".
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Tais versos ilustraram camisetas amarelas, na campanha das Diretas Já; também, no material de propaganda utilizado pelos jovens esquerdistas, envolvidos em campanhas eleitorais ou nos embates universitários calorosos
— retrato dos movimentos políticos ocorridos no fim do século XX.

Hoje, sabe-se que são apenas parte do enorme e emblemático poema do escritor niteroiense, Eduardo Alves da Costa: "No Caminho com Maiakóvski"

Lembram-me emotivamente minha fase de estudante de Economia, intensamente vivida em Recife - PE.

Passados tantos anos, com enorme carinho e muita saudade, recordo-me daqueles amigos que, ingenuamente, faziam política estudantil, na perspectiva da construção de um Brasil melhor, livre e democrático... Gílson Oliveira, Ricardo Mago, José Manuel Kássimo (in memória), Paulo Sérgio, Iara, Mohandas Lima da Hora, Chiquinho, Rubinho, Zé Roberto, Ana Cláudia Scarpini, Marta Caldas Falcão, Wladimir Lima, Ângela, Socorro "Dama das Camélias", Guilherme Lafayete, Antônio Fabrício Guedes, Antônio Teixeira Clemente (in memória), Teresa, Ismeralda Nascimento "Cofinha", Luís Carlos, Zé Roberto, Honório Bona, Ewardo Nunes, Romildo Wílson, Adelmar, Maria, Mário Genário, Mário Augusto...


                             Post Scriptum

Eduardo Alves da Costa é um ilustre desconhecido para grande parte dos brasileiros, inclusive no meio literário. Seu poema "No Caminho com Maiakóvski" continuará como referência pelos velhos "jovens sonhadores" de minha geração.

 

Antônio Rodrigues de Carvalho Neto


 

Antônio NT
Enviado por Antônio NT em 12/07/2019
Reeditado em 04/07/2023
Código do texto: T6694272
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