ERA UMA VEZ UMA HORDA DE HOMENS MAUS...

ERA UMA VEZ UMA HORDA DE HOMENS MAUS...

*Rangel Alves da Costa

Era uma vez uma horda de homens maus... Era uma vez uma aldeia de homens bons... Os homens maus, sempre procurando fazer mais maldades, então resolveram tirar a paz dos homens bons. Estes, sempre companheiros da concórdia e da pacificidade, jamais esperavam serem invadidos por qualquer legião estrangeira.

Mas um dia, um ancião de seu povo profetizou que logo aqueles espaços seriam tomados por lanças, armas de fogo e flechas envenenadas, e o sangue iria jorrar como em vulcão sangrando a dor maior. Reunião a população e decidiram o que fazer acaso a terrível previsão se confirmasse. Decidiu-se que nada, absolutamente nada, fariam diante de um ataque, e até mesmo porque jamais haviam pegado em armas nem revidado o mal com o mal.

E na medonha expectativa foram passando os dias. Mas logo ao amanhecer de um dia se viram cercados por homens bárbaros, ferozes, embrutecidos, empunhando todo tipo de arma de destruição. Enviaram um emissário avisando que a aldeia se preparasse para ser destruída. E a resposta obtida foi a de que já estavam, desde muito, preparados e, por isso mesmo, eles podiam atacar quando desejassem.

O líder da horda enfureceu com a resposta. Seu desejo era encontrar um revide tão violento que justificasse o banho de sangue que logo espalhariam, mas não um povo sem demonstrar qualquer reação. Reenviou o emissário, e dessa vez para afirmar que ou a população iniciasse imediatamente um contra-ataque ou eles arrancariam todas as cabeças da população. Como resposta, foi-lhe enviada uma cesta com queijos, frutas e mel.

A fúria do líder bárbaro foi ainda maior. No mesmo instante ordenou um ataque devastador. Ao adentrar na aldeia, contudo, encontraram apenas pessoas sorrindo, conversando, cochilando nas calçadas. “Viemos matar todos vocês, então revidem, peguem em armas!”. Gritou a ferocidade. Mas nada de reação. “Lancem chamas nas moradias, deixem tudo em cinzas!”. Ordenou.

Contudo, o fogo havia faltado. Então avistaram um senhor se aproximando com uma tocha na mão para oferecer. Tal gesto fez o sanguinário líder quase morder seu cavalo de tanto furor que foi tomado. Isso não pode ser, nada disso pode acontecer, disse a si mesmo, enquanto ordenava que todas as cabeças fossem cortadas a punhal. Mas antes do massacre ter início, o líder logo avistou todo o povo deitado à espera das lâminas ferozes. Esse novo gesto fez o coração do malvado pular em mil chamas.

Isso não pode ser, nada disso pode acontecer, novamente disse a si mesmo. Então esbravejou: “Levantem e lutem seus covardes. Levantem para morrer com dignidade seus vermes!”. Mas ninguém levantou. Um levantou sim, mas foi uma criancinha que lentamente foi caminhando até perto do cavalo do odiento bárbaro para arremessar uma pedra, uma pedrinha miudinha recolhida ali mesmo no chão.

Arremessou e a pedra entrou bem na boca aberta do sanguinário. Engasgado, quase se contorcendo para se livrar daquele doloroso e inesperado incômodo, o feroz quis gritar, e até gritou à sua horda. Mas as palavras saíram tão trocadas que ao invés de a horda ouvir “ataquem” ouviram “fujam”. E todos fugiram em desenfreado atropelo, deixando o arroxeado líder engasgado e quase sem poder respirar.

Vendo-se abandonado e prestes a morrer, o terrível algoz pediu ajuda à criancinha. Então o garoto arremessou outra pedra ainda com mais força, mas dessa vez nas costas do engasgado. Com a pancada, a pedra pulou da garganta e o feroz foi se refazendo até ficar em estado normal de embrutecimento. Depois de refeito, o sádico abandonado por sua horda ainda gritou e ameaçou acabar como todos ali.

Mas o que ouviu em seguida lhe deixou estupefato. Gargalhadas e zombarias àquele cuja menor palavra já era motivo para matar. Então o pior aconteceu. De repente ele avistou um monte de meninos se aproximando e todos com pedrinhas á mão. Então urrou: “Não!”. E fugiu tão velozmente que nem o vento o alcançava.

Escritor

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