Diário de Bordo (De volta às terras de Pasárgada ..)

Diário de Bordo (De volta às terras de Pasárgada.)

Deixei a nossa casa em Monteiro Lobato escoltado por uma chuva fria e renitente, premiado com o fundo sonoro dos miados do Baltasar, a reclamar insistentemente de alguma coisa que só ele sabia do que se tratava. Nesta quinta feira molhada, a anunciar uma brusca queda de temperatura, típica dessas plagas valeparaibanas, me aboletei num ônibus da Gontijo e comecei a saga de fazer o percurso de São José dos Campos a Ilhéus em trinta horas. Nada que um bom estoque de resiliência, uma boa coleção de vídeos e alguns livros não resolvam com êxito, ladies qnd gentlemans. Cantam os menestreis e gravam nas runas os antigos sábios nórdicos que passadas as cabalísticas 30 horas, já previsto os atrasos costumeiros, chega este aprendiz de escriba às terras que Jorge Amado tanto amou.

Bem. Não poderia deixar de pinçar dessa heroica jornada o encontro com Hanna, uma cadela pastora da Polícia Rodoviária Federal que trabalha procurando entorpecentes nas bagagens de quem se arrisca a transportar esses e outros ilícitos. A danada parecia mais querer brincar do que propriamente procurar drogas ou algo que o valha, sendo que depois de uma meia hora fuçando por entre os bancos do ônibus, Hanna e seu treinador se retiraram sem nada encontrar.

Depois de uma noite dedicada a colocar a ossatura e os músculos em seus devidos lugares, acordei com um cortejo de periquitos sobrevoando a casa do meu amigo Djalma, na qual me recolhi antes de empreender a ida para Olivença. Torcendo mais que a calorosa inchada do Boca Juniors para que não chova no trajeto para a Cururupitanga, me porei daqui a pouco a caminho de casa, aonde a enxada, os coqueiros e o Cururupe me esperam de braços abertos.

É certo que uma corrida aos maracujás me proporcionarão um bom suco, garantidor mais do que eficaz para continuar mantendo afastada de mim essa sortida de gripe que vem assolando as gentes daqui e dacolá, conforme venho acompanhando.

Como nem tudo é só prejuízo, me sobrou dessa jornada sacolejando dentro de um ônibus, mesmo que muito confortável, de trinta horas um bom papo sobre a vida, recheado com troca de informações sobre técnicas de fotografias, as melhores configurações de aberturas e os truques para se aproveitar o flash, já que o meu companheiro de viagem é um fotógrafo freelancer que trocou um emprego promissor que tinha no metrô de São Paulo para viver numa pequena cidade do Sul da Bahia.

Sob a competente escolta de Djalma, que foi parado na rua mais do que político em véspera de eleição, peguei a tralha, passei no supermercado pra me abastecer de algumas frutas, e depois me toquei nos rumos das atraentes terras do Sul da cidade de Ilhéus, tendo Olivença como alvo maior.

Enfim, o certo é que deixei um tanto relutantemente o friozinho aconchegante de Monteiro Lobato, trouxe na matula uma imensa saudade de Eliana e dos nossos bichos, e eis-me aqui a mergulhar de cabeça no cotidiano das coisas do reino encantado de Pasárgada.

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 07/07/2019
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