De vez em quando um clichê

Eles se conheceram na Louisiana. Foi um louco e rápido amor. Pra alguns seria uma noite ou um caso. Enfim, foi uma noite, um caso e um louco amor. Ela era uma garçonete de pele negra como a noite, sorriso branco como a neve que derrete qualquer homem com coração de gelo. Os cabelos desciam trançados nas costas e os olhos eram dois brilhantes faróis castanhos escuros que se apertavam quando ela sorria. Tinha o corpo levemente cheio e era baixinha, a atitude era de mulher que não se rebaixava para pessoa nenhuma, inspirava respeito.

Ele encostou no bar e pediu uma cerveja. Admirava a moça com os olhos enquanto os ouvidos curtia a possante rouca voz de Howlin’ Wolf.

Ele puxou assunto, a moça era difícil. Não lhe deu confiança, nem brecha. Ele estava a ponto de desistir quando pediu mais uma cerveja e disse- lhe seu nome.

Baltazar.

A moça mordeu os lábios mas não conseguiu prender o riso. Ele poderia se chatear, mas como poderia diante daquele poderoso sorriso que lhe aquecia a alma?

- Me desculpe...eu não deveria- disse depois de controlar a risada.

Ele estava envolvido demais para retrucar. Ele sorriu de volta.

- Pode rir a vontade, a vantagem é minha por poder vê- la sorrindo. Ainda mais sendo a fonte dele...

Ela riu ainda mais.

- Essa cantada não vai colar, moço! – ela o encarou.

Ele coçou o cavanhaque, manteve o sorriso.

- Não esperaria mesmo que funcionasse, mas cantada ou não ainda sim é a verdade.

Ela olhou para os olhos dele, depois o rosto negro e o leve sorriso.

- Me chamo Bessie

Então acabaram se entendendo e conversaram. Ele um viajante de passagem e ela uma garçonete. No rádio do bar a garota de Sonny Boy Williamson II queria saber onde ele estava e ele não sabia.

A noite poderia ter acabado na cama de hotel e os dois nus. Mas não acabou assim, terminou com uma troca de beijos debaixo da luz de um poste numa noite de lua cheia de abril. Simples assim. Pra muitas pessoas foi apenas uma pegação. Mas para Baltazar e Bessie foi uma troca de beijos carregados de amor, desejo. Um escapismo para a vida, embora diferente, parada dos dois. Talvez tenha sido um clichê. Mas que diabos! O que é a vida sem um clichê de vez em quando?

No dia seguinte, Baltazar estava no seu carro deixando Bessie e Louisiana para trás.

Wesley Curumim
Enviado por Wesley Curumim em 18/06/2019
Código do texto: T6676102
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