O Time dos sem-camisas da minha rua...
A minha rua era de humildes. Todos os tipos de necessidades habitavam nela; até a fome era comunitária e a bebida imunizava por igual.
O ar triste daquela rua deixava os cabelos das mulheres emaranhados, mas, nada que as impediam de matar a fome dos homens por detrás daquelas janelas carregadas de feiura e fome.
Daquelas portas brotavam meninos e meninas de todo naipe, uns sem pai e sem mãe e uma avó que era tudo na vida dos pirralhos: era casa, arroz, feijão, banho e médica, via dos chazinhos milagrosos.
A vida se sustentava na leveza do vento, e sempre que nascia um, morria um e outro ficava esperando a vez para morrer, não que a criatura quisesse. Era a lei naquela rua de fraquezas.
Foi daí que escapei. Nem sei como fugi dessa selva emaranhada de poeira, escrevi, com a planta do meu pé, a minha história no chão batido daquela rua. E foi ali também, no meio dela que eu fiz o meu primeiro gol para o time dos sem-camisas da minha rua!