“E Deus Quer”

O voo ponte-aérea da viagem ida e volta estava previsto para as

10:00 h de uma bela terça-feira de sol do Mês das Mães. Tontonha preparava o check- in e aguardava o momento da chamada. Antes, tomara um banho morno e estava simplesmente linda. Ela recebia elogios dos tripulantes que circulavam em sua volta e assegurava-se na fortaleza de sua origem.

Anunciou-se a partida e a caminho da nave, a matriarca de tantas gerações era cumprimentada por olhares otimistas daqueles que a acompanhavam desde o saguão. A tripulação de jalecos brancos aguardava aquela passageira solitária. Os holofotes da aeronave iluminavam o interior e junto à baixa temperatura determinavam a conformidade do ambiente. Dava-se início a pequena jornada e as habilidades das aeromoças em guiá-la até o seu assento a deixava confiante de que o percurso seria perfeito.

Os procedimentos seriam feitos corretamente e com o aval do piloto dos pilotos. A destreza do comandante era um dom de Deus e sua experiência tranquilizava os que clamavam por uma viagem tranquila, sem turbulências.

Iniciava-se a decolagem e Tontonha com o seu cinto atado obedecia as normas do provedor e dormia um sono tranquilo enquanto a equipe de tripulantes executava seus serviços brilhantemente. Havia uma grande descontração e sincronismo em seus atos que simbolizavam confiança.

Durante o repouso da amada senhora, era necessário que algo fosse corrigido para que uma pane não acontecesse e atrapalhasse outros percursos de Tontonha. A eficiência da tecnologia junto ao conhecimento do condutor somava-se a benevolência dos anjos para reparar o órgão em forma de saco, parecido com uma pera, localizado abaixo do lobo direito do fígado. Sua função era armazenar o líquido produzido pelo fígado que atuava na digestão de gorduras no intestino, um organismo importante e valioso da vida daquela sábia criatura que precisava retornar aos seus para dar continuidade ao tranco.

Quarenta minutos, foi o tempo suficiente para o restauro e a voz precisa do co-piloto emitiu a mensagem:

- Senhora passageira, aperte o cinto de segurança, pois estamos em processo de pouso e todas as condições de clima e tempo estão favoráveis a sua chegada.

Agasalhada e protegida, a preciosa idosa com os seus noventa anos de idade surpreendia a todos com o seu belo sorriso e impunha:

- Leve-me o mais rápido possível para casa.

- Estou morrendo de saudade do meu Veio.

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 21/05/2019
Reeditado em 20/05/2024
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