Palavra Solta - um dia, acordei resolvido a ser passarinho...

Palavra Solta - um dia, acordei resolvido a ser passarinho...

*Rangel Alves da Costa

Um dia, acordei resolvido a ser passarinho. Abri a janela do quarto como se abre a porta de uma gaiola. A manhã adiante era como a liberdade na natureza. Os primeiros clarões do sol eram como nuvens me chamando ao voo. Sim - eu disse a mim mesmo -, eis que chega o momento de sair do chão, eis que chega o instante de deixar de pisar somente em pontas de pedras e punhais de espinhos. E me confessei ainda mais: nunca sobe aos espaços da realização, nunca alcança a montanha do saber, nunca encontra os verdadeiros ares da liberdade de pensar por si mesmo, aquele que se acostuma como se rastejando estivesse. Hoje eu sou passarinho. Repeti e repeti. Nada mais me impede de ter minhas próprias asas, de avistar adiante meus horizontes e suavemente planar até onde eu desejar. Não preciso seguir em revoada, pois sei muito bem o que desejo e onde quero chegar. E então, não sei bem se na nudez ou semivestido, alcei voo através da janela. E voei tão alto e cada vez mais alto, que nunca mais quis retornar ao reles do chão. Certamente que me encontram por aí, certamente que me avistam caminhando pelas ruas, curvas e estradas, mas não imaginam quanto eu continuo voando. E só sou o que sou por que nunca tive medo de voar, de sonhar, de pensar grande. Nas alturas, nas alturas!

Escritor

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