Mãe, ontem, hoje é sempre

Nasceu em Santa Catarina, a mãe faleceu quando ela tinha nove anos. O pai casou novamente e ela e seus dois irmãos passaram a ser tratados como se fossem filhos bastardos – madrasta malévola.

Passou fome, mas gostava de dançar e fugia com as primas, carregando os tamancos nas mãos, para ir aos bailes (como se ninguém a conhecesse). Sabia que apanharia na volta, mas já tinha se divertido. Foi nessas fugidas que conheceu seu grande amor. Casou e teve seus filhos.

Em Porto Alegre virou lavadeira. Lavava batendo, alvejando no sol, enxaguando com anil as roupas brancas, engomando e passando com ferro a brasa. Buscava as trouxas e entregava tudo alinhadinho. Tudo isso misturado aos cuidados com os filhos, netos e hóspedes, temporários e também com quem ficou até casar.

Sabia receber visitas como ninguém. Não faltava o café com bolinho frito e “cueca virada”. Sempre envolvida com a Igreja Católica era a “polenteira” oficial das festas de Nossa Senhora Santana e não saia de lá sem dançar com quem a convidasse: maridos das amigas, padres ou as próprias amigas. O importante era aproveitar!

Sofrimento e muito trabalho, sim, mas vaidade, cuidar de si, bom humor e palavrões, sempre. Cremes de pele, perfumes, cabelos alinhados, unhas bem feitas, brincos, colares, pulseiras e anéis foram suas marcar registradas até seus últimos dias.

Como não amar, respeitar e buscar seguir os ensinamentos dessa pequena-grande mulher chamada Maria Dotina!

Mas sendo Maria uma mãe, parecia ter alguns defeitos. Porém a filha já adulta, e mãe também, se dá conta de que o que pareciam defeitos eram puros ensinamentos.

Eram esses os ditos defeitos:

- ser o despertador, naqueles dias de inverno, para ir à escola, dizendo que o estudo era a única herança que podia deixar. Ensinamento - responsabilidade

- brigar, quando via lavar a cabeça ao chegar do curso técnico, quase meia noite. Ensinamento - cuidado

- vê-la abrir inúmeras vezes a janelinha da porta, na esperança de ver os irmãos mais velhia chegando das festas. Ensibamento - preocupação com quem se ama

- levar “bons” tapas, quando resolvia ultrapassar as fronteiras por ela estabelecidas. Ensinamento - limites

- ouvi-la dizer, quando saia da sua casa, depois de passar um final de semana cuidando dela: - minha filha, o que tu faz por mim hoje nunca te arrependeras e - vai minha filha, vai trabalhar que o trabalho é vida. Ensinamento - reconhecimento; senso de sobrevivência; realizações.

Então a filha se pergunta: - como não amar essa mulher, que além de me dar a vida, também mostrou o caminho, que muitos reconheci somente depois de ter filhos e, alguns me fazem refletir hoje já na descida da escada natural da vida, sobre o bem querer?

E a filha deseja, ardentemente, que seus filhos a amem na mesma proporção, pois tentou seguir os passos de sua velha mãe.

Tânia França
Enviado por Tânia França em 06/05/2019
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