Pensar e escrever

Entre o pensar e o escrever, mesmo os poucos segundos que separem o pensamento do ato são suficientes para que não mais escrevamos o que pensamos, mas sigamos por outras trilhas nem sempre tão seguras quanto aquelas que, arduamente, o pensamento havia sugerido que seguíssemos. Não sei se se perde algo ou se ganha algo, com essa armadilha posta em nossa tentativa de expressar aquilo que pensamos ou sentimos. Em todo caso, se não nos é possível escapar a essa estranha síndrome, contentemo-nos com o que sobra nas linhas concretas que aparecem aos nossos olhos e esqueçamos os sonhos impalpáveis com que os relâmpagos mentais nos iluminam de vez em quando, aos quais damos o nome de inspiração, mas que não passam de fugazes sinapses de nossos cérebros, a nos indicar caminhos novos ou até mesmo pequenas projeções de futuro a partir da experiência acumulada em nossos neurônios desde o nascimento. A compreensão de tal estigma – o lapso entre o pensar e o escrever – pode parecer cruel e desestimuladora do ato de escrever, mas não obsta a que tentemos sempre superar tal condição, para nos lançar na aventura quiçá ventura de transmitir ou deixar registrado tudo aquilo que insiste a nossa mente em fazer-nos crer que é importante, embora, muitas vezes, não o seja, mas apenas fruto de nossa veleidade de seres humanos imperfeitos que se julgam, no entanto, o ponto mais alto da evolução.

12.6.2017