SENTA QUE O LEÃO É MANSO

É esquisito quando certas pessoas assumem, depois de certo tempo, posições partidárias e ideológicas explosivas, mais agitados que lambaris na sanga e se fecham numa espécie de redoma. Basicamente, podem sempre ter sido aquilo que são, tudo bem. Mas a arrogância e a discriminação não funcionam. Alguns já trocaram de partido, atividade, hobby, cidade, cônjuge, amizades, traços fisionômicos e por aí vai. Faz parte. C’est la vie. Qual é o pó? Só pra lembrar, alguns irados, homem ou mulher, em meio a circunstâncias muito agudas, voltavam-se prioritariamente para suas carreiras e conveniências e ostentavam postura outra. OK, a rigor, nada demais. Saíram-se geralmente bem ou quase isto. Chamativo é o fato de, hoje, tratarem com certo desdém ou ares de soberba os que não ingressaram em seus clubes e irmandades e têm outra visão de mundo. “Humano, demasiadamente humano”. Não conheço muito de perto tais figuras, mas sempre achei lamentável os arroubos da pretensão, em qualquer seara. A pessoa pretensiosa é menor do que poderia ser e busca compensar a sabida insuficiência de tamanho fazendo caras de Sartre, Simone, Churchill ou Thatcher. Por sorte, tenho amigos de carne e osso, que politicamente brigam, contestam, ironizam, xingam, mas sabem reconhecer e respeitar o valor da amizade e adotam conduta digna no contexto das relações. Ademais, amigo pode dizer o que quiser no seu espaço, inclusive torcer alucinadamente pelo Fortes e Livres de Muçum. A dissensão é importante. Infelizmente, existe gente cujo ego é maior do que a profissão, a ideologia ou o partido. Quando viajam, precisam comprar duas passagens. Mas, enfim, isto é só uma crônica, ninguém vai mudar um centímetro, o sujeito vai continuar se achando o dono da verdade e eu vou continuar dando risada. Na verdade, seria relevante um esforço conjunto para impedir que o leão escapasse da jaula, como na história daquele que se soltou no circo, todos se levantaram e as tábuas da arquibancada espremeram os miúdos do cidadão, que desesperadamente berrava: “Senta, senta que o leão é manso!”.