Sagrada Escritura de Zé Ramalho

Quinta-feira Santa. Diferente de antigamente, hoje a quinta e sexta-feira da Semana Santa viraram feriadão, viagens, praias, festas e o escambau de diversões. Mudaram os costumes, O tempo não pára e não é defensor das tradições.

Noto, porém, que, mesmo em face do modismo, as pessoas ficam mais reflexivas, inclusive nesses dias ficam mais amenas, menos arengueiras e at´, pasmem, educadas. Quase não se testemunha os atos corriqueiros de grossura explícita. Sim, a grossura virou praxe no cotidiano.

Estou recolhido aqui no apartamento, não pude viajar a Pesqueira onde sempre passo a emana Santa. Estou, portanto recolhido, dou minha caminhadinha bem cedo, mas passo o tempo lendo, escrevendo, ouvindo música orquestrada (na semana santa só ouço música orquestrada) e, d vez em quando, dou uma olhada na janela para ver a vida, árvores, passarinhos e, of course, gente. Não raro desço e vou bater papo com o porteiro e o vigilante.

Fico pensando na vida. Na mania que temos de querer mudar os outros. Esquecendo que cada cabeça é um mundo. Que cada um dá o que tem. Ninguém muda ninguém. Tudo bem, é dever tetar esclarecer, sugerir, aconselhar, dialogar... Mas a verdade é que as pessoas, noves-fora a globalização que alienou muita gente, só fazem o que lhes dá na telha. Mesmo errando paca, agem como manda a sua razão, a sua vontade, o seu coração. E priu.

Sempre que penso que é inútil querer mudar as pessoas porque elas são o que são, recordo do poema que Zé Ramalho costumava declamar antes de começar seus shows, era poema Da Sagrada Escritura dos Violeiros. Vou transcrevê-lo:

"A defesa é natural:/ cada qual para o que nasce,/ cada qual com sua classe,/ seus estilos de agradar./ Um nasce para trabalhar,/ outro nasce para briga,/ outro vive de intriga./ E outro de negociar./ Outro vive de enganar -/ o mundo só presta assim:/ é um bom e outro ruim,/ e eu não tenho jeito ara dar./ Para acabar de completar:/ Quem tem o mel, dá o mel./ Quem tem o fel, dá o fel./ Quem nada tem, nada dá".

Acho um poema arretado. Realista e meio duro. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 18/04/2019
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