SAI ESPOSA, ENTRA MÃE

O tempo faz algumas esposas virarem mães dos maridos e alguns maridos virarem pais das suas mulheres. Não se trata de metamorfose surrealista ou algum tipo de piração. Acontece porque as coisas vão mudando, os sensores vão ficando diferentes e as pessoas passam a desempenhar novos papéis na vida a dois. A safadeza, o tesão, a malícia contida em algumas intenções vai mudando seu roteiro e novos códigos passam a vigorar, O casal vai envelhecendo e seus sinais gritam um "estou aqui!" nas rugas do rosto, nos embranquecimento dos cabelos, na maturidade que vigora nos pensamentos e sentimentos. Alguns medicamentos prometem trazer a libido agora distante, mas, de fato, só dilatam as veias para o sangue preenchê-las com mais vontade e certa rigidez acontece. Enterrar os próprios pais é a regra originalmente talhada no nosso caminho. A orfandade deixa lacunas difíceis de preencher. Então passamos a sentir a pessoa que está ao nosso lado com certos traços maternos ou paternos, muitas vezes sutis, outras vezes negados, mas que pouco a pouco vão atracando no nosso coração. Daí, mesmo não admitindo formalmente, nos damos conta que, de fato, não estamos tão órfãos assim. Isso dá certo conforto e até prazer, como aquele que sentíamos quando fazíamos valer nossos instintos na cama de casal.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 14/04/2019
Reeditado em 24/10/2021
Código do texto: T6623509
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