DIA DAS MÃES
Era a comemoração do dia das mães. Os alunos estavam terminando de confeccionar na sala os cartazes para mostrar a todas as mamães da escola. Faltavam apenas alguns minutos.
Uns levaram revistas para recortar imagens de mulheres ou de famílias inteiras, outros levaram jornais. Houve até quem preferisse desenhar o rosto de uma mulher e depois pintá-lo a seu modo.
Lá no fundo da sala, uma dupla de meninas se destacava pelo cuidado com que tratavam seus materiais e pela demora para concluir o trabalho. Foi a última dupla a terminar de confeccionar o cartaz em homenagem ao dia das mães. Os cartazes seriam expostos no pátio da escola para que todos pudessem ver as suas obras.
O primeiro passo, no entanto, seria ali na sala mesmo. Cada dupla faria uma apresentação rápida de seus cartazes, explicando cada imagem, palavra ou frase que tivessem colocado no cartaz.
Uma após a outra as duplas iam se apresentando. Houve o caso de uma dupla de meninos que conseguiu colar imagens de vinte mulheres famosas, recortadas de uma revista, e queriam com isso representar todas as mães do Brasil. Mas as modelos se pareciam por demais umas com as outras, sendo que nenhuma tinha traços ameríndios ou afro-brasileiros.
Outra dupla — composta de dois irmãos negros, um menino e uma menina — não poupou esforços e comprou um pôster duma modelo negra que está listada pela mídia entre as mulheres mais bonitas do mundo. Mesmo tendo gasto suas economias de quase um mês, os dois estavam muito felizes, pois diziam que aquela modelo representava a mãe deles — que pra eles era a mulher mais bonita do mundo. Colaram o pôster na cartolina e a ornamentaram com flores de plástico e algumas frases colhidas em um livro de poemas.
E assim as duplas foram se apresentando na sala sob o olhar atento dos colegas e do professor. Por último foi a vez daquela dupla que ficara lá atrás, com todo o cuidado e toda a demora do mundo. Na hora em que mostraram seu cartaz, os outros meninos caíram em gargalhadas.
— Qual o motivo da risada? – pergunta o professor com tom de seriedade.
— Tá muito feio, tio! – responde um dos alunos.
As meninas, já desanimadas com a zombaria dos colegas, ameaçam não fazer mais a apresentação. Mas o professor fez os meninos se calarem e insistiu que elas apresentassem o trabalho que fizeram com tanto esmero durante duas aulas de Arte. Então elas apresentaram.
— No meio do nosso cartaz estão as fotos de nossas mães. Por isso demorou pra terminar ele, porque nós não podemos sujar elas, nem cortar – fala uma das meninas.
— Em cima, dos dois lados, colamos duas rosas vermelhas de verdade. Por isso também que a gente demorou pra terminar, porque só hoje eu consegui achar essas flores no quintal de minha vizinha – fala a outra.
— Em baixo desenhamos nós duas, porque não seria bom colar fotos da gente. O dia é das mães então só pode fotos delas.
— E, pra terminar, nós inventamos dois poemas para nossas mães e escrevemos na cartolina, como se fosse uma história em quadrinho, com aqueles balões com a fala dos personagens.
— É só. Obrigada – agradece uma delas.
O professor tinha ficado realmente encantado com aquele trabalho. Ao invés de fotos de modelos ou mulheres famosas, aquelas duas meninas resolveram colar as fotos de suas mães de verdade. E foi por isso que a turma caiu na risada, porque acharam feias as mães das meninas, embora não tivessem a coragem de expor suas próprias mães, valorizando-as como mulheres, como pessoas merecedoras de serem mostradas em murais e cartazes. Ao invés de retirar poemas de revistas, elas mesmas escreveram as mensagens para suas mães, mostrando que tinham algo pra dizer, que não dependiam das palavras de estranhos que nem sequer conheciam suas mamães.
No final, depois das explicações das meninas na frente, metade da turma resolveu bater palmas para elas. A outra metade ficou calada. Olhavam para seus cartazes e o que viam? Modelos, atrizes, cantoras e esportistas. Menos as suas próprias mães, as homenageadas daquele dia.