LARGAR TUDO, SUMIR DE VEZ.
Quem nunca pensou em jogar tudo pro alto, cuspir no prato comido e sumir no mundo. Quem nunca se achou cercado por um bando de ingratos, verdadeiros sugadores de sangue, só querendo mais e mais pra si e nada mais. A vida traz essas páginas quando menos supormos, como uma pancada forte que dói fundo. Quanto melhores forem nossas intenções, quanto mais agudo tiver sido o nosso empenho, a ingratidão chegará imponente, numa soberba carruagem, e nos encara com certo escárnio, com certo desdém, com certo desprezo. Nessas horas, nos postamos como a mais mísera das criaturas diante desse sórdido cenário. Dá vontade mesmo de largar tudo e sumir de vez. Daí acontece uma coisa que não explicamos. Surge algo de dentro da gente que passa a berrar pra termos calma, abaixar o tom da indignação, porque o vendaval vai passar e as coisas retomarão seu rito de paz. Essa pode ser uma das vozes de Deus que, vez por outra, nos acode, nos sacode, nos abençoa. A dor, por mais espessa que se faça ser, nunca será mais soberana do que a nossa capacidade de auto-regenerar. Somos maiores do que qualquer desavença, do que qualquer vento contra. Somos maiores do que todo o universo, por mais irônico e bizarro que possa parecer.