NEM TODO MORTO VIRA SANTO

Nos anúncios fúnebres e enterros normalmente são enaltecidas as qualidades da pessoa falecida.

Pai exemplar, mãe dedicada, funcionário de qualidades mil e amado por todos na empresa são voz corrente quando se informa da morte ou é feita alguma menção na cerimônia fúnebre.

Lembro dos enterros de filme americano. Coisa linda.

Todo mundo chique, sentado em frente ao caixão, e o oficiante, por vezes pastor de alguma igreja, relatando um breve histórico de quem bateu as botas e não economizando nas palavras elogiosas ao seu caráter, lisura, lealdade e por aí vai.

Parece que só morrem pessoas dignas, de personalidade irretocável.

Gente que só fez o bem e que construiu sua passagem por aqui com a lisura de Madre Teresa de Calcutá multiplicada infinitas vezes.

Estou esperando pra ler um anúncio de falecimento ou estar num enterro em que farão menção ao mal que o morto fez, suas falcatruas, desvios de conduta e demais coisas que aprontou ao longo da vida.

Porque lembrar do lado positivo de quem se foi é gesto nobre, sem a menor dúvida.

Mas não esquecer que nunca foi flor que se cheirasse, que esteve léguas de distância do exemplo de um pai incrível ou que foi uma mãe que exerceu seu papel de forma bizarra, talvez fosse o mais honesto em alguns casos.

Penso que se for publicado anúncio informando da morte de alguém e se referindo ao finado como crápula, pode causar profunda estranheza de início, provocando indignação geral.

Mas, quem sabe, possa vir a ser o divisor de águas pra que se diga que o fulano foi um tremendo safado e que, apesar de morto, de santo não tinha absolutamente nada.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 05/04/2019
Reeditado em 05/04/2019
Código do texto: T6615837
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