“NÁDEGAS QUE IAM E VINHAM”

I

Parecia que nada era importante pra ela. Ocupava-se apenas em equilibrar suas nádegas que iam e vinham, pra a esquerda e pra a direita. “J.J.” a observava... Tudo nela era enorme... Tronco, cabelo, pernas, autoestima, face, atitude.

- “Quanto é o colar?” – Ela perguntou.

- Hum... – Ele respondeu coçando a barba e olhando o céu, tentando ser engraçado e sorrindo em seguida. Sempre fazia isso pra quebrar o gelo.

Ela não sorriu como ele esperava (afim de ver seu rosto brilhando, como desejava ver).

- “Quanto.” – Ela insistiu impaciente, com as duas mãos enfiadas nos bolsos do micro short.

Por milésimos de segundos “J.J.” fitou o seu umbigo com um olhar rápido e quase imperceptível. Não sentiu tesão, mas sentiu imensa vontade de sentir... ou de sentir qualquer coisa que se relacionasse à ela. Resolveu dar uma de espertinho...

- Esses colares valem minha vida... – Disse, quase sussurrando, com um olhar vidrado e enigmático. - Quanto vale UMA VIDA pra você?

- O que você quer com isso? – Ela perguntou, irritada, se desarmando... olhando ao redor e tirando as mãos do bolso...

- Relaxa, há muito tempo que prefiro não ser, “aquele que vive tentando a sorte... e jamais conseguindo”. Não to dando em cima de você... não quero acordar em casa e ter que esquentar café pra você... o quero saber é: quanto vale minha vida pra você?

II

Sofia então...

*Ah!... o nome dela era Sofia, é que só consegui me decidir agora, tinham três nomes... tirei no palitinho e “Sofia” ganhou, continuemos... (O AUTOR) ... olhou nos olhos de “J.J.” ... o que era uma coisa que ela raramente fazia com as pessoas.

Sofia evitava olhos nos olhos, pois quando era criança seu pai lhe contou que era ALI que estavam presas as almas. E que somente sentimentos muito verdadeiros podiam libertá-las. E Sofia não estava afim de sair libertando ninguém. Ela andava muito ocupada com o peso de suas nádegas que iam e vinham... Sentiu seus ombros pesarem, sua postura ficou curvada. Estava voltando a ser a pequena garotinha de aparelho nos dentes e espinhas na testa... aquela, que vestia uma surrada camisa do Bon Jovi. Aquela que ela foi um dia.

... encabulada, invejosa, inocente... sozinha. É claro que existiam meninos, mas aqueles ela nunca queria..., e os que ela queria, nem sabiam que ela existia. Naquela hora, olhando aquele vendedor de bobagens, Sofia achou que ele parecia um pouco com todos aqueles meninos. Olhou em volta, sentiu sua face esquentando. Ajeitou os cabelos loiros (pintados), lisos (pranchados) e notou um grupo de homens que subia a ladeira em sua direção... e eles olharam pra ela rindo, bêbados, tarados, ávidos, famintos, nojentos. Eles esperavam que ela fizesse suas enormes nádegas irem e virem... naquele ritmo, naquele mantra. Sentiu-se despida... e ridícula. Sentiu seu rosto coberto de espinhas.

- EI, calma. Eu só tava brincando. – Disse o vendedor, sorrindo meio sem graça.

Por alguns segundos ela nem se lembrava direito do que estava fazendo ali. Olhou-o nos olhos mais uma vez, sentiu vontade de beijá-lo. Talvez se o beijasse, estivesse pronta para começar uma vida nova... e diferente... mas ele parecia decidido demais, orgulhoso demais e ... FELIZ demais. Ele a fazia lembrar dos tempos de escola, mas de fato não era um daqueles garotos da escola.

Sofia deu um muxoxo estereotipado, carrancudo e cheio de pose. Era quase o passo de uma dança inventada por ela... e que só podia ser dançada por ela, sozinha. Pôs os peitos pra cima, seus seios pareceram dobrar de tamanho. Pernas, curvas, arrogância... tudo voltou ao devido lugar. Saiu rapidamente... estabelecendo com ligeireza, o ritmo do vai e vem de suas poderosas nádegas que iam e vinham.