O AMIGO DE SEMPRE
Esse era o slogan que o saudoso amigo, Evaristo Roberto Vieira Cruz, o Beto, mineiro de Cataguases, Minas Gerais, utilizava quando de sua participação em campanhas políticas. Eu o conheci na cidade de Barra do Garças, Mato Grosso, lá pelos idos do ano de 1.972. Era funcionário do Banco do Brasil naquela cidade e dava-se bem com todos, indistintamente. Por isso, e por sua simpatia pessoal, logo alçou vôo na política no Estado de Mato Grosso, chegando a Deputado Estadual, exercendo esse cargo com firmeza e dignidade sendo que numa das legislaturas exerceu também o cargo de Presidente da Assembléia Legislativa, quando teve atuação destacada no processo sócio-econômico de Mato Grosso. O Beto, era uma pessoa especial e vivia rodeado de amigos, muitos dos quais pessoas simples, a quem dispensava as maiores atenções. Em consequência de sua ascensão política mudara-se para a capital de Mato Grosso, Cuiabá, onde se destacou na carreira parlamentar, fazendo grandes amigos no seio da sociedade cuiabana, que também sentiu muito sua falta, pois o mesmo se integrara de corpo e alma na maneira de viver dos cuiabanos.
Lembro-me de uma viagem que fizemos juntos no ano de 1.975, quando ele ainda não havia ingressado na carreira política e era simplesmente o Beto do Banco do Brasil. Pois é, num dia qualquer do mês de março daquele ano, viajamos na sua camioneta, uma Chevrolet, C-10, azul, com destino à gleba dos gaúchos, distante da cidade de Barra do Garças, aproximadamente, uns 430 quilômetros pela rodovia BR-158 que dá acesso à cidade de São Félix do Araguaia, próxima a ilha do Bananal no Estado de Mato Grosso. Nosso objetivo era visitar os colonos gaúchos recém chegados, para ele Beto, na condição de fiscal do Banco do Brasil, vistoriar as glebas e ver da possibilidade daquela gente comprar máquinas agrícolas, através de financiamento pelo referido banco. Chegando no nosso destino, uma gleba, onde hoje existe a cidade de Canarana, mas que naquela época, 1.975, não existia nada, a não ser a Casa do Pasto, localizada em pleno cerrado e que era o local onde as pessoas paravam, pelo menos para tomar as refeições, pois naquelas paragens só existiam casas de madeira em meio ao mato fechado, distantes vários quilômetros uma das outras, o que, de certa forma, dificultava nosso serviço de visitar cada uma delas. As pessoas que lá viviam quase não se expressavam em português, eram na maioria chegantes descendentes de alemães, poloneses e de outras nacionalidades. Aconteceu que no vai e vem do percurso, onde não existiam estradas, somente trilhas, nós nos perdemos e chegamos a passar fome, pois apesar da relevância de nossa missão, os olhos azuis dos moradores miravam-nos com certo receio, deixando-nos acanhados para lhes pedir algum tipo de alimento. Perguntando daqui e dali, após passarmos em terras dos índios Xavantes, conseguimos chegar no último colono a ser visitado. Era um senhor descendente de italianos, do qual não me recordo o nome, que estava abalado com a morte de sua sogra naquele dia e aparentava uma tristeza imensa. Quando lhe contamos que estávamos com fome motivada por termos nos perdido no trajeto, ele gentilmente nos disse, "somos pobres, mas temos coração". Acrescentando, aqui vocês estão em casa e foi logo ordenando para seus familiares, esposa e filhos, que matassem uma das poucas galinhas que tinha no terreiro. Paradoxalmente, talvez esse cidadão fosse um dos mais pobres do lugar, mas pela forma gentil com que nos tratou, aposto, sem medo de errar, que o seu financiamento deve ter sido um dos primeiros a ser aprovado. No caminho de volta viemos comentando tudo o que tinha ocorrido e chegamos mesmo a abordar a grandeza de espírito daquele cidadão que tão bondosamente matou nossa fome, apesar do momento de dor que experimentava com morte em família.
Roberto Cruz sempre esteve na frente de seu tempo e se espelhava muito na figura do fundador de Brasília, Juscelino Kubstichek, seu conterrâneo. Era um ser humano de excepcionais qualidades, que gostava de se trajar bem, vestindo-se com bastante esmero, embora fosse totalmente desmaterializado. Vivia ajudando aos menos afortunados. Gostava de ajudar na solução de problemas que envolvia exclusão social, motivo pelo qual, reputo que o mesmo já se encontra no panteão dos servidores do Cristo. Roberto Cruz partiu desse mundo deixando muitas saudades em seu vasto círculo de amigos, mas também nos deixou um legado especial, além de seus irmãos, sua família maravilhosa, a Sra. Walquíria, sua esposa e seus filhos, Ana Paula, José Roberto, Roberta e Adilson, que certamente nos fará lembrar sempre da pessoa iluminada do AMIGO DE SEMPRE.