Em um beco

Ando pelas esquinas da minha vizinhança, a mesma vizinhança de todos os meus vizinhos. Todas as paredes são descritas perfeitamente pela luz do Sol, todos os passos são vistos e ouvidos e os rostos parecem mais bonitos. A água escorre, ainda suja, pelos cantos das calçadas. Os becos permanecem misteriosos, mas visíveis.

Então 5 horas se passam em mais um dia de verão. As árvores, as casas e as ruas, eu as observo caramelizadas pela amena luz solar decadente. Vejo o céu rosa e laranja tomando o azul que ficará escuro.

Mas, à noite, todo aquele éden é possuído pela ser pente. Aquelas paredes aflitas e a água suja seguram o silêncio da noite. Não ouço os passos nem vejo rostos. Na verdade estou em casa, por isso não ouço, mas tenho noção do que acontece lá. Todos que passam têm ouvido sensivelmente seus batimentos cardíacos velozes. Têm os que aceleram os corações e são saqueados, e têm os que pintam as paredes de vermelho.

Mas mesmo que os suspiros sejam mais altos que o silêncio esmagador, o Sol vai retornar para todos os aflitos e desesperados. Só que este ciclo de sentimentos continua e as paredes continuam sendo acuadas. As calçadas ainda continuam cinzas e os becos sombreados. A minha vizinhança sabe de tudo isso e ainda tem esperança.