Transitória Dor
Ao visitar pequenas cidades do interior, que morrem aos poucos ao ver partir seus filhos, sempre gostei de visitar cemitérios. Na verdade não gosto de cemitérios, prefiro cremação e fim, sem referências ou datas, apenas cinzas no parque reciclando minerais. Mas gosto da arte de uma época em que esculpia-se saudade em arenito botucatu. Frágil arte que perde-se por ação inexorável do tempo ou puro vandalismo. Essas visitas são sempre carregadas de reflexões sobre o sentido da vida e da morte junto a túmulos abandonados. Há dor e sofrimento na morte. Difícil não sentir. Sofre quem vai e quem fica, mas o tempo passa e com ele as gerações passam e ninguém mais sente ou sofre pelos que se foram, pois os que sentiriam a muito já foram também. Perdem-se os vínculos no plano terreno, no plano material. Restam alguns túmulos abandonados, a beleza da arte e um incrível sentimento de paz... muita
paz. Resta a convicção que a dor é transitória para todos nós.