A condicionante "se" e a sensação de impotência perante a morte

Não sei, veio-me à cabeça:

A morte, independentemente do motivo, deixa o uso da condicionante “se” martelando na minha cabeça. Essa condicionante que, por vezes, me faz sentir tão impotente.

Está completando quatro anos da morte de um jovem professor de música, amigo do meu sobrinho Bruno. Morte estúpida, na saída de uma festa de aniversário. O rapaz deixou a esposa grávida e uma tristeza infinita, para familiares e amigos. Daí ficou o “se não tivessem ido ao aniversário; se tivessem saído um pouco antes ou um pouco depois da festa; se tivessem saído todos juntos...”.

No dia 22 p.p., fez seis anos que a minha mãe faleceu, com 94 anos. Eu estava junto a ela, foi tudo muito rápido, chamei socorro, o atendimento médico esteve duas vezes lá em casa, mas somente na terceira é que, por imposição minha, ela foi levada para o hospital. Ficou viva pouquíssimas horas, mesmo assim na UTI e sem falar mais conosco. Daí ficou o “se eu tivesse exigido que ela fosse para o hospital já na primeira chamada; se fosse minha irmã ou uma das cuidadoras que estivessem com ela...”.

Mas além da condicionante “se” tem outro fator que me deixa a sensação de impotência, é o acompanhar um ente querido quando está doente. Para mim, um dos sofrimentos maior é quando a doença está relacionada à insuficiência respiratória. Um ato que é tão automático para todos os seres vivos, de repente se torna um martírio. Puxar o ar e ele não completar o processo de oxigenação que nosso corpo tanto precisa! Falo isso, porque meu pai sofreu de enfisema pulmonar e, ficava “ligado” a uma máquina de oxigênio vinte e quatro horas direto.

“O tio do meu marido, saudoso "tio Caneca”, tinha como máxima: ” as criancinhas não bebem cachaça e não fumam e morrem igual!”. É tio Caneca, é verdade, mas meu pai quando deixou de beber e fumar teve uma vida quase saudável por mais 20 anos. Ele mesmo dizia que Deus lhe deu uma segunda chance e ele iria aproveitar. E aproveitou, pena que seus pulmões já estavam muito comprometidos e seus últimos quatro anos foram doloridos, não só pra ele como para todos nós que o acompanhávamos.

A condicionante “se” e a impotência ficam martelando minha cabeça, quando vejo pessoas que gosto e que amo usando um dos maiores causadores de câncer do planeta, o cigarro. Já fui fumante e sei que não é fácil largar o vicio, mas quem dera pudesse viver para ver meus amados e queridos sem esse veneno.

Claro que além do cigarro, temos muitas outras drogas nos envenenando diariamente. Sei também que desde o momento da nossa concepção já estamos certos da morte, mas, como dizia meu amado irmão Juarez, quando hospitalizado devido ao câncer no estomago: “não precisava a gente sofrer para morrer...”, por isso acredito que SE pudermos evitar o sofrimento, melhor.

Sei lá, senti necessidade de escrever sobre isso -a condicionante e a impotência - SE é que alguém me entende!

Tânia França
Enviado por Tânia França em 24/02/2019
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