... e os loucos serão os sãos e os sãos loucos.
Loucos sempre existiram, e sempre foram tratados como o que são: loucos. E as histórias deles não recebiam destaque na imprensa. Hoje em dia, a imprensa dá destaque aos loucos, no desejo de dá-los como pessoas sãs, e os sãos loucos. Dias atrás, noticiou-se a história de um homem que se diz apaixonado por uma bicicleta; não muitos dias depois, publicou-se uma reportagem que deu notícia de uma mulher apaixonada por um avião; não faz muitos dias, ficou-se sabendo de um casal de vegetarianos que, não querendo ter um filho e nem adotar uma criança, porque crianças são de carne, adotou um brócolis; e agora, dá-se notícia de um rapaz que está processando os pais porque eles o deixaram nascer sem a permissão dele. As personagens de todas estas histórias são loucas, e como tais têm de ser tratadas; suas histórias deveriam, se muito, ficar, no rodapé de página, em letra minúscula, quase invisível aos olhos humanos, para servir de curiosidade e diversão às pessoas sãs. E estas não são as únicas histórias de tal teor. Há muitas outras. E é certo que muitas outras serão publicadas. E chamo a atenção para um detalhe: todas as reportagens que têm em loucos seus personagens estão num tom sério, respeitável, a tratar dos loucos como seres que estão apenas defendendo um direito. Muita gente, lendo-as no tom em que elas estão, acabará por se acreditar louca, certa de que os loucos das reportagens são pessoas sãs, e, para não se sentir deslocada em sociedade, e tampouco louca, se comportará como os loucos das reportagens, acreditando que assim assegurará a sanidade, e acabará por se enlouquecer.