INICIATIVAS E ACABATIVAS
Ideias vêm à mente a cada fração de segundos. Aos turbilhões. Jorrando nos nossos entendimentos as mais estapafúrdias possibilidades. É delicioso dar vazão pra essa maré sem fim, deixando fluir a genialidade latente livre, leve e solta. Diria, até, que isso propicia um gozo único, bem diferente daquele que estamos habituados a reverenciar. E daí? De que valem milhões de ideias se a imensa grande maioria morre na praia? Parece que vamos revirar o universo, que deixaremos Einstein pra trás, e daí? Quem vai arregaçar as mangas e ir pros finalmente? Quem terá o peito de enfrentar uma porrada de obstáculos, ciladas, erros de percurso etc. etc. etc. pra fazer aquela ideia luminosa ser parida e berrar seu choro inicial de vida? Quem terá a garra de reconhecer seus absurdos, seus ridículos, seus sem-noção pra corrigi-los? E aí que a coisa pega, compadre. Acabativa é coisa de quem entende do gingado, que se compromete a decifrar ritos, quem tem a gana de ir até o fim da parada - custe o que custar. Acabativa é coisa de herói, de bandeirante, de mercenário da Legião Estrangeira, de cara que não tem medo de tomar porrada na cara, que sabe o preço que vai pagar pra fazer o sonho deixar de ser sonho. São essas despojadas criaturas que sobreviverão ao fim do mundo, que dão sentido ao correr dos rios e à cada gota de suor que escorre por suas testas. O resto é mera perfumaria, coadjuvantes numa alegoria opaca, empoeirada e falida.