XEQUE MATE!
Jogo xadrez desde garoto, tendo meu pai como mestre, depois como adversário.
Ensinei meu filho David a jogar e, por muitas vezes, estivemos em lados opostos do tabuleiro numa acirrada disputa que eu, sob protestos, perdia quase sempre.
Vejo muito da minha vida nesse universo de reis, rainhas, bispos, torres, cavalos e peões.
Hoje jogo no celular, já que meu filho desistiu de ganhar sucessivamente do pai, e percebo que muitos dos meus desvios de caráter, medos, inseguranças e outros quesitos mais aparecem com extrema clareza e desenvoltura nessa "brincadeira".
O quanto repito os meus erros, a minha incapacidade de vislumbrar o conjunto, deixando importantes peças à mercê de serem comidas impunemente, o meu limite mental de criar uma estratégia para detonar o rei adversário.
Mas também vejo méritos, é claro.
Tem dias em que estou zunindo de capacidade guerreira e vou excluindo, uma a uma, as peças "inimigas" até que as poucas que restarem se tornem incapazes de abraçar a vitória. Xeque mate!
Tem dias em que esses tais "desvios de caráter" não se dizem tão eloquentes assim, os medos, inseguranças e demais quesitos perdem seu brilho e ficam dóceis, fáceis de domar, irrelevantes diria.
Daí descubro que sou capaz de ir até o final do combate e encurralar o rei "do outro" para que, sem alternativa, abandone o trono de uma vez por todas.
Nessas horas, viro uma espécie de ser divino, onipotente, colocando o universo na palma da minha mão pra fazer dele o que bem quiser.
Meu amigo, que glória!
Essas vitórias encharcam minha alma de felicidade, trazem a esse sessentão um vigor juvenil que há muito não experimentava.
São prazeres assim, um tanto moleques, que dão sabor único pra essa algazarra maluca que chamamos de vida.