Dos sertões para o Cururupe (um espartano em trânsito)
Dos sertões para o Cururupe (um espartano em trânsito)
Desde que fui para o Recife, em meados dos anos 1980, efetuar um tipo de trabalho totalmente diferente do que até então eu havia executado, saindo de empresas sólidas e conceituadas para o incerto universo da informalidade, passei a entender o mundo mesclando várias tendências, e não só pautando o que eu venha a pensar ou sentir do mundo circundante.
Esta experiência vivida na capital dos guararapes, durante o turbulento governo Sarney, que teve desde zelosos fiscais de preços e bois no pasto, a eleição em massa de governadores chapa-branca (e que veio desaguar num descrédito fenomenal e na teatral eleição do canastra Collor de Mello) me ajudou a formar opinião sobre mídias e governos, qualquer governo, a aprender a medir a temperatura das coisas por uma análise crítica e o mais distanciada possível, sem atrelar a cordões de caranguejos por mais festivos que venham a me parecer.
O resultado de uma postura assim tem necessariamente de nos galvanizar contra a maré enchente, a não esperar benesses nem de governos e muito menos de empresas (ou mesmo pessoas proximas) pois desses dois só costuma vir as faturas para manter suas opulentas formas de existência.
De experiências e chamuscares este sertanejo aprendeu um bocado, tendo de reconstruir dos escombros sua Torre desmoronada mais vezes do que dedos tem em suas duas mãos.
Com as críticas, velhas companheiras de jornada, procuro me ajeitar como um jumento faz com a sua cangalha, extraindo conforto e conhecimento de onde parece impossível, pois estas me alertam para a volatilidade dos eventos, enquanto os vistosos elogios me ocultam os perigos da curva seguinte.
Já faz uns vinte anos que venho norteando a minha vida pessoal num rumo o mais espartano possível; parei de ter carro próprio, me preparei para ser terapeuta, (atividade que nao faz ninguem rico) e fui cada vez mais me afastando da azáfama das grandes cidades, pois a minha ojeriza ao barulho beira o obsessivo.
Nesse caminhar, acabei indo morar na idílica localidade do Bairro dos Sousas, incrustada em Monteiro Lobato, na Serra da Mantiqueira, aonde Eliana e eu pegamos uma casa em ruínas e reformamos inteiramente, apesar dos perrengues que tivemos de enfrentar, fomentados por uma vizinha do tipo que nos obriga a evoluir como seres pensantes.
Bom. Depois de todo esse roteiro digno de um Exército de Branca Leone, ao surrupiei algumas partes, vim dar com as pernas e os costados aqui em Olivença, um Distrito que está para a cidade de Ilhéus no mesmo patamar que o Bairro do Souzas está para Monteiro Lobato: ambos são considerados recantos paradisíacos e repletos de montanhas, verde e muita água doce.
Nessa altura do meu campeonato aqui no planeta Terra, não tenho certeza de sentirei praça de vez, mas tenho a firme convicção de que quero sim, construir um recanto aprazível, tanto para mim quanto a quem por essas bandas venha a aparecer.
Aqui, no Cururupe dos Tupinambás, o banho é farto e bom, e a terra...
...ah! A terra nos recebe como mãe carinhosa recepciona seu filho pródigo.