Clarissa

A menina abriu o livro que a professora pediu para ler. Sempre gostou de leitura, mas a capa deste livro já a agradou. Era o desenho de uma garota de seus quatorze anos ,pele morena clara e cabelos pelo pescoço, lisos e pretos.

Aquela figura era praticamente sua cópia fiel. Abriu o livro e se deliciou com a história da colegial que tinha vindo para a cidade, morar na pensão de sua tia para poder estudar.

Assim como a personagem, ela também despontava para a juventude. Seu corpo estava tomando forma, seus pensamentos viajavam e a vontade de sentir o sol em sua pele, o cheiro de vida se espalhando pelo ar era intensa.

Tinha tantos sonhos quanto aquela menina do livro. Conseguia sentir o cheiro da flor de pessegueiro que enchia todo o ar da pensão onde vivia a personagem. Queria ser como ela. Na verdade, já era.

Nunca lera uma história que a fascinasse tanto quanto aquela. Uma história que parecia ter saído de sua própria vida, embora pertencesse a um tempo muito antes do seu.

Ficava imaginando o que aconteceria nos capítulos que ainda não tinha lido. Sentia que era como se a história lhe pertencesse e o desfecho estivesse em suas mãos.

Ah, como conseguia sentir o cheiro das flores que se espalhavam pelo ar e perceber que a vida poderia ser tão simples.

Sentia-se feliz como aquela menina inocente e pura.

Alva, Branca, Clara, Clarissa!

O tempo foi passando e a menina foi crescendo. Em suas mãos muitos livros chegaram. Algumas vezes as histórias eram cômicas e a menina ria deliciosamente; outras vezes a história era de mistério e a menina ficava pensando em como solucionar aqueles problemas ora simples, ora difíceis. Muitas histórias de amor passaram pelas mãos da menina e ela sonhava com príncipes encantados, amores eternos; porém o que ela não sabia era que histórias dramáticas também existiam e quando a doce menina começou a ler histórias tristes sua vida deixou de ser encantada. Percebeu que já não ria tanto com tanta facilidade e que já não sonhava com príncipes encantados. Que a maldade também podia habitar o coração dos homens.

E a menina sofreu e neste momento virou mulher...

Íria de Fátima
Enviado por Íria de Fátima em 30/12/2018
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