Comentários de um comunista acerca de um crime
O crime:
Um homem avança sobre uma jovem de dezesseis anos para das mãos dela arrancar um telefone celular que ela comprara duas horas antes; a jovem, num ato involuntário, reage à abordagem do homem, que retira de sob o cós da calça uma faca, e esfaqueia a jovem, cuja vida esvai-se em poucos segundos.
E o assassino corre, em disparada; mal percorre cinquenta metros, um policial dele aproxima-se, ordena-lhe que pare, e, como a sua ordem não foi por ele atendida, retira do coldre um revólver, aponta-o para o assassino, aperta o gatilho, e alveja-lhe a perna esquerda. O assassino cai, e o policial dá-lhe voz de prisão. E encaminham o assassino ao hospital; restabelecido o assassino, o encaminham à delegacia de policia. E ele é condenado à dez anos de prisão.
Agora, os comentários do comunista:
- O homem que esfaqueou a jovem é vítima da nossa sociedade cruel, insensível e egoísta. Ele matou a jovem porque ela possuía um telefone celular moderno, último modelo, de marca famosa, e o ostentava, excitando, com tal postura, o desejo do homem que a esfaqueou. Se ela não tivesse comprado o telefone celular, e se ela não o ostentasse, o homem que a esfaqueou, matando-a, não desejaria dela roubá-lo, e, portanto, não a esfaquearia. Culpados da morte da jovem são o inventor do telefone celular, o fabricante de telefones celulares, o lojista que o vendeu à jovem, e a jovem, que o comprou, e não o homem que a esfaqueou, matando-a. Ora, raciocinem, e concluam que comigo está a razão: Se o inventor do telefones celulares não inventasse telefones celulares; se o fabricante de telefones celulares não fabricasse o telefone celular que a jovem comprou, e não o vendesse para o lojista; se o lojista não revendesse o telefone celular para a jovem esfaqueada, e morta em decorrência do esfaqueamento; e se a jovem exibida e vaidosa não ostentasse o telefone celular recentemente adquirido, o homem que a esfaqueou, matando-a, não desejaria tê-lo para si, e não a esfaquearia, e, consequentemente, não a mataria. Entenderam? Quem é a vítima nesta história? Não é difícil de saber, é? A vítima é o homem, que, desprezado pela sociedade, desprovido de dinheiro para comprar o telefone celular mais moderno, foi forçado a tomar uma decisão radical para possuir o que era do seu desejo, o telefone celular. A morte da jovem que o ostentava foi a conseqüência, não da ação do homem cujo desejo de possuir um telefone celular a jovem excitou ao ostentá-lo diante dele, mas da ostentação, pela jovem, do telefone celular. E a policia ainda ousa prender o coitado!?