Novo ano

Esse ano passou por mim como um tornado. Foi um giro e tanto. Com certeza passei pelos piores, mas também pelos melhores momentos da minha vida. Vivi um deserto, mas pude com ele perceber o oásis que me cerca. Percebi o tanto que sou fraca, mas também o tanto que sou forte. Senti-me às vezes sozinha em um vazio interminável, no silêncio sombrio de apitos incontroláveis que ainda afligem meu sono e desnorteiam minha alma. Outras vezes senti segurança, amor e afago dos que amo, e dos que me amam e do próprio céu. Senti as orações de cada um, e elas me mantiveram de pé, mesmo quando não tinha forças para tanto. Percebi o quanto a solidez de um casamento, de uma família e de uma fé, de fato fazem a diferença. Aprendi a ser mãe, e até médica. Deixei de lado o medo de ver aplicar vacina nos meus filhos - ah se fossem apenas vacinas... - aprendi um vocabulário novo, cheios de siglas e fenos e trins e oxis e nids e tomias e de manobras e uti. Entendi a importância de um mero 1% a mais, ou a menos, quando se está no limite - da vida. Vivi um mundo novo, totalmente fora da famosa zona de conforto. Aprendi o valor de ter pessoas especiais ao meu lado, e de dormir na minha cama, com meu travesseiro. Como é bom dormir em paz, em casa. Aprendi a sentir o cheiro das pessoas. De deixar as coisas pequenas passarem, porque as grandes um dia virão, e nesse dia, você precisa está forte. Foi um ano tenso, intenso. Mas com ele veio aquelas bochechas fartas, aquela mão gordinha e o pé de bisnaguinha. Aquele momento do colo, onde só existe eu e ele. Aqueles olhos que me fitam com tanto amor, mas tanto amor, que dói. Esses olhos me ensinaram a ser especial. A ter paciência. A enxergar as coisa por vários ângulos. A perceber os sinais de Deus. A me sentir amada por Ele. A abster-me de bens materiais. A entender o que de fato é urgente e o que pode esperar. A diferenciar o necessário do supérfluo. A entender o tempo de Deus, que nunca será igual o nosso. A viver o hoje, intensamente, como se fosse o último dia da minha vida. Que existem 2 opções: passar uma vida inteira se lamentando, ou viver um dia como o melhor dia de uma vida inteira. Não sei quanto tempo Deus vai me dar de convivência com esses olhos, que mesmo pequenos, já me ensinaram que não importa quanto tempo será, desde que seja perfeito. Esses olhos não me fizeram apenas uma pessoa melhor, mas uma filha melhor. Uma esposa melhor. É como se eles tivessem me salvado de mim mesma. Esse ano passa com uma loucura interminável de aprendizado. Aprendi como se ama de verdade e me deixei ser amada. Tive medo, de verdade. Sofri. Renasci. Transformei-me. Vivi por vocês.