Segredo

Ela era e uma bondade inquestionável; tanto que, muitas vezes, isso incomodava alguns desleixados descrentes da vida ou até mesmo uns empedernidos viventes ainda de almas enlameadas na maldade e no sadismo e tudo o mais daí derivado. E a pergunta sempre ficava sem resposta:"como pode ser tão "assim"?" E ela tinha que suportar as investidas, as provas dos noves, os testes fora de propósito. Sofrido, pode crer, para ela era muito sofrido tudo isso. Ao invés de andar para frente, fazer o bem na parte que era da sua competência, tinha mesmo era que investir muito tempo na defesa de si mesma ou curando machucados desnecessários vindos de agressões insistentemente perturbadoras.

Mas ela tinha um segredo. Que talvez não fosse um segredo. Isto se alguém pudesse estar interessado em saber. Mas nunca ninguém a questionava, nunca ninguém analisava, ninguém sequer queria saber.

A verdade é que ela não era assim tão boazinha de graça, ou sem porque. Na vida nada é por acaso, alguém sabiamente já disse.

A verdade mesmo é que a vida se encarregara de fazê-la trilhar um caminho de certa maneira obrigando-a, considerando a sua constituição mental e física. Bem, se ela não fosse uma pessoa de alta sensibilidade, certamente, não alcançaria um considerável nível de bondade. Pois é aí que morava o seu segredo. Não dizem que "quando se age errado de consciência o castigo vem à cavalo?" Pois bem, com sensibilidade não se brinca, ou se cuida ou se está perdido. Ela dizia ter plena consciência de não poder deixar-se levar por sentimentos negativos, más ações, maldades, ou o que quer que seja nesse tortuoso caminho, pois que o castigo vinha-lhe à cavalo. Ela simplesmente perdia controle de si mesma, ficava a mercê de uma "vibe" ruim onde tudo e qualquer coisa podia acontecer. Aprendeu isso com um certo sofrimento mas relativamente cedo ela dizia, e foi aperfeiçoando com o tempo.

E aí estava o segredo da sua bondade: também por consciência, por vontade própria, que aprendeu com o tempo a ter. Mas muito por impossibilidade de se manter equilibrada numa situação contrária.

Ela dizia que a vida a prepara de tal forma que o freio à corrente do mal era quase um imposição. Aprendeu a se manter na corrente do bem, mas provavelmente se não fosse por essa quase imposição não teria tido forças para lutar e manter-se na corrente do bem.

E então ela dizia: não, eu não sou boazinha, eu estou boazinha! Era o seu segredo que se abria e quase ninguém entendia.

E completava: Quem sabe amanhã seja você a estar bonzinho?