Enterro

Hoje presenciei um enterro. Estava parada no semáforo quando de maneira distraída olhei para o outro lado da avenida em que estava e vi o carro fúnebre à frente do cortejo. Comecei a contar o número de carros que o acompanhavam. Seis carros. Automaticamente fiz as contas: se cada carro portasse quatro pessoas então havia vinte e quatro pessoas no enterro. Vinte e quatro.

Não tive como não pensar no falecido. Quem era? O que fizera em vida? Quantas pessoas ajudou? Quantas amou? Não importa! Havia, contando por cima, apenas vinte e quatro pessoas acompanhando-o até sua última morada.

No momento me lembrei dos enterros de minha infância. Eu ficava na área da casa da minha avó e o cortejo passava a pé. Homens segurando as alças do caixão se revezavam vez em quando. Atrás muitas pessoas acompanhavam num silêncio absoluto. Quando os moradores das casas por onde passava a procissão avistavam que a mesma vinha se aproximando, abaixavam suas cabeças numa prece, os homens tiravam os chapéus e o comércio cerrava suas portas até o momento em que o cortejo passasse por completo. Respeito. Respeito com aquele que tinha vivido, criado raízes, odiado e amado. Respeito. Respeito por uma vida que findara.

Fiquei refletindo sobre o que aconteceu conosco. Nossas vidas corridas. Não temos tempo. Damos uma passadinha rápida no velório, mas ir ao enterro não. Não temos tempo. Um amigo está doente? Mandamos uma mensagem. Ele se recupera logo! Não vamos visitar. Não temos tempo!

Não temos tempo! Não podemos! Estamos numa busca frenética. De que mesmo? Talvez numa busca frenética para não saber quem somos. Ocupamos todos os nossos minutos e segundos por quê? Porque temos medo do que encontraremos no ócio? Corremos tanto, fazemos tanto, arrumamos tantos compromissos que nos falta tempo para...viver! Que pena!

Descanse em paz , meu caro desconhecido!

Íria de Fátima
Enviado por Íria de Fátima em 12/12/2018
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