CRÔNICA DE NATAL E ANO-NOVO - Ialmar Pio Schneider - Desde que me lembro, o Natal sempre foi o acontecimento festivo mais marcante para a Cristandade, notadamente, para as crianças e os poetas, incluindo os escritores em geral. Outrossim, basta olharmos

CRÔNICA DE NATAL E ANO-NOVO

IALMAR PIO SCHNEIDER

Desde que me lembro, o Natal sempre foi o acontecimento festivo mais marcante para a Cristandade, notadamente, para as crianças e os poetas, incluindo os escritores em geral. Outrossim, basta olharmos as cidades enfeitadas e as casas com suas árvores de todas as espécies, naturais e artificiais, e a representação do nascimento de Jesus Cristo, com o presépio simples ou ao vivo que, diz-se, foi introduzido na Igreja por S. Francisco de Assis. Em nosso Estado, o Natal-Luz de Gramado tem sido importante evento turístico pela sua beleza e grandiosidade. Mas por outro lado, não podemos nos desviar dos lares pobres, onde há carência até de alimentos, e confiarmos no Governo que assume no dia 1º, com o fito de eliminar a fome de nosso País, fazendo com que todos tenham três refeições por dia. Não esqueçamos, entretanto, de fazermos a nossa parte, contribuindo com as campanhas de arrecadação de alimentos não perecíveis, a fim de minorar este problema crônico.

Sentimentalmente, nada mais emotivo do que o Soneto de Natal, de Machado de Assis: "Um homem, - era aquela noite amiga,/ Noite cristã, berço do Nazareno, -/ Ao relembrar os dias de pequeno,/ E a viva dança, e a lépida cantiga,// Quis transportar ao verso doce e ameno/ As sensações da sua idade antiga,/ Naquela mesma velha noite amiga,/ Noite cristã, berço do Nazareno.// Escolheu o soneto... A folha branca/ Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,/ A pena não acode ao gesto seu.// E, em vão lutando contra o metro adverso,/ Só lhe saiu este pequeno verso:/ "Mudaria o Natal ou mudei eu ?"' Hoje, quando leio estes versos, surge-me à memória que houve em minha vida também - Um Natal Inesquecível: Lembro-me vagamente. Teria eu, de quatro para cinco anos, e isto faz muito tempo. Poder-se-ia dizer, com certeza, meio século. Meus irmãos Hugo (agora residindo em outra dimensão) e Elói já existiam e contavam três anos e dezoito meses, respectivamente. Era então noite de Natal. Nossos pais haviam, excepcionalmente, naquele ano, nos levado à casa de uma família da vizinhança, que era de classe média alta, e costumava montar o pinheirinho e esperar a chegada de Papai Noel.

Nós éramos pobres, ou por assim dizer, remediados; nunca tivemos uma árvore de Natal enfeitada. Na vila em que morávamos, havia, quiçá, uma meia dúzia de famílias que o fazia e nós não estávamos entre elas. Todavia, naquela ocasião, ignoro por que cargas d'água, nossos pais resolveram nos proporcionar a tradicional festa na casa de uma família amiga conhecida.

Após cantarmos a Noite Feliz, de repente surgiu no meio da sala, não sei vindo de onde, o Papai Noel com um saco de brinquedos às costas. Imediatamente, começou a distribuí-los e quando chegou a minha vez, entregou-me uma caixinha que abri, incontinenti. Era uma gaitinha de boca, bem pequenina. Logo comecei a soprá-la, tirando-lhe algumas notas musicais que eu nem sabia o que era. Aquele Natal de minha infância nunca mais esqueci !

Contudo, já que iniciei falando em poetas que fizeram versos para o Natal, apraz-me transcrever abaixo, de um dos nossos maiores literatos, Manuel Bandeira, os seguintes: "VERSOS DE NATAL - Espelho, amigo verdadeiro,/ Tu refletes as minhas rugas,/ Os meus cabelos brancos,/ Os meus olhos míopes e cansados./ Espelho, amigo verdadeiro,/ Mestre do realismo exato e minucioso,/ Obrigado, obrigado !// Mas se fosses mágico,/ Penetrarias até ao fundo desse homem triste,/ Descobririas o menino que sustenta esse homem,/ O menino que não quer morrer,/ Que não morrerá senão comigo,/ O menino que todos os anos na véspera do Natal/ Pensa ainda em por os seus chinelinhos atrás da porta.- 1939."

Finalizando, aproveito o ensejo para desejar a todos os leitores, que a paz, a harmonia e a concórdia sejam o apanágio de um Feliz Natal e um Próspero Ano-Novo pleno de realizações.

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Ialmar Pio
Enviado por Ialmar Pio em 11/12/2018
Reeditado em 26/05/2020
Código do texto: T6524547
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