Sorvete Sabor Saudade
Numa determinada manhã, quando meu filho ainda era criança, resolvi ir até o centro da cidade, pois precisava comprar alguns itens do material escolar dele que estavam faltando.
Depois de fazer o necessário, descemos tranquilamente a Rua Dr. Braguinha conversando alegremente até que num dado momento um nó se formou em minha garganta. Na parte da frente de uma das lojas, de maneira bem precária, tinham colocado uma máquina de sorvete.
Dessas com líquidos coloridos que ficam de cabeça para baixo e ao serem acionadas, o líquido transforma-se num creme bem leve.
Eu não conseguia respirar ao ver aquilo. Imediatamente, voltei aos meus cinco anos de idade e vi-me de mãos dadas com o vovô Antônio.
Vovô era um daqueles espanhóis que vieram de uma família muito pobre, muito humilde. Um tecelão, homem rude, sem instrução, mas que conjugava como ninguém o verbo amar. Não há como falar da minha infância sem falar nesse homem que tanto carinho e amor me deu.
Era comum vovô me pegar pela mão, e me levar até uma pequena sorveteria que havia perto de sua casa, na Vila Hortência (bairro que tenho muito orgulho de ter nascido e me criado). Nessa sorveteria, meus olhos de criança brilhavam quando se deparavam com aqueles líquidos coloridos que trariam um sabor especial à minha vida.
Após muita dúvida sobre qual sorvete escolher, apontava com meus dedinhos uma cor e vovô o entregava para mim. Cheio de alegria me pegava novamente pela mão e me levava de volta para sua casa. Mal sabia eu, que aquele dinheiro poderia lhe fazer falta...
Voltei à realidade. Naquele momento meu filho me perguntou algo, fazendo com que eu saísse daquele rápido transe.
Depois de contar essa história da minha infância ao meu filho e falar-lhe sobre a saudade que sentia do meu avô, fui até a moça que estava vendendo o sorvete e pedi um de morango. Dei a mão ao meu menino e fui descendo a rua saboreando o sorvete, com as lágrimas escorrendo pela minha face.
Aquele sem dúvida foi o melhor sorvete que eu já tomei. Sorvete sabor saudade!