Nós

Nós de nó mesmo, uma corda só se faz nó, basta para ficar preso, coisa firme, coisa de cego. Nítido os rumos tomados e a imprevisibilidade das coisas, talvez a gente, ou eu nunca mais poderia chamar assim, devido às circunstâncias, passos não dados, caminhos que não seriam um, mas paralelos agora. eu te amava, com ponto final, era isso. Relutando, indo atrás, largando pra lá às vezes quando eu via a improbabilidade nos universos em que viviamos, nos nossos cotidianos detalhadamente distantes, quando eu esforçava tentando me colocar perto, estar dentro, morar lá, ficar viva em qualquer canto que fosse seu, nosso. Mas não era, era outra vida que não a minha que sem esforços já estava dentro. tudo se dissipa mesmo, se esvai. tudo some e vira um infinito do que não aconteceu que sobrevirá para sempre, coisa amarga, sufocante. você se mantém intacta - ou seria egoísmo meu o uso da palavra. as coisas bonitas serão de outra pessoa, não minhas. Ouvi barulho de chuva agora a pouco, acendi cigarro, bebi um pouco e nada muda, continuarei aqui atrás da brecha. Paro e cintilo o que não veio, escrevo. Mas o não vir é presença, fica vivo, entranha, rasga. Queria acreditar em tudo de novo, olhar algo bonito, você conseguirá, eu não. Não desejaria o oposto, essa coisa é minha. cresce aqui, não aí.

Anny Ferraz
Enviado por Anny Ferraz em 03/12/2018
Reeditado em 04/12/2018
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