Domingueira: " Aqui me tens de regresso!

Não sou literato, apenas um consumidor da literatura. Só isso. É claro que tenho minhas opiniões sobre os livros que leio. Mas apenas opiniões, deixo a crítica por conta dos bambambãs na matéria.

Mas de vez em quando, quando me encontro com uma patota da minha geração, inclusive os que gostam de alardear conhecimentos literários, só pra chateá-los, até porque sou um empata-samaba nato, dou um pitaque de leve,`não raro mal-intencionado e ferino. Pelejo para ficar calado, mas nao tem jeito. Reconheço que sou mesmo um proovocador. E o pior é que sinto prazer nisso. Siu um caso perdido.

Vem, vamos ao cerne (gostaram da palavrianha? é de dia de domingo) desta maltraçada. Estava com um grupo de amigos que trouxeram outros que eu ainda não conhecia, tomando umas lapadihas de Pitu Gold e tirando o gosto com sarapatel, outros aderiram à Miss Verão, quando de repente, não ais que de repente, eclodiu, por acaso, um papo sobre poesia. Um amigo disse que o maior poeta do Brasil era Drummond; um sujeitinho de oclinho John Lennon, que eu não conhecia, rebateu afirmando que era Bandeira; outro ficou com Ferreira Gullar, citou até o Poema Sujo, algupe falou em Manuel de Barros; e choveu poetas: Cecília Meireles, Binícius, Jorge de Lima, Thiago de Mello, Geir Camspos, Joaquim Cardoso e, aleluia, Castro Alves. O papo foi ficando animado e acirrado, os cars pareciam críticos lierários. Chegaram até a deixar os coos de Miss Verão esquentar e otira-gosto esfriar... Só se ligavam no debate poético.

Como não manjo nadinha de poesia, apenas gosto dela, estava calado, chateado, mas chateado porque já tinha consumido minha cota de lapadas, seis, e do tira-gosto um pires de sarapatel. Mas aí me botarama na polêmica. Um amigo do peito, o que optou por Drummond, perguntou: "E você, bicho, quem é seu poeta poeta preferido?". Ainda pensei em repetir um dos nomes citados, mas não resisti à vontade de fazer uma provocação, disse: "O meu poeta pfeferido nãoa é brasileiro, é português". O sujeito do oclinho John Lennon que declamara "Alumbramento" de Bandeira, indagou: "É Pessoa?". Fiz que anão com a cabeça, então oroas falaram em Sá Carneiro, José Régio... Resolvi esclarecer quem era o meu poeta preferido: "Não, nao é nenhum desses, é Adelino Moreira". Foi um rebu dos seiscentos diabos. Choveu indignação, fiquei até com medo de ser linchado. Mas alguns começaram a rir, com afirmações de "essa é boa", "esse cara é um gozador", "só sendo piada"... Resultado, abriram novo debate. Um sujeito que ra fã de Castro Alves saiu em minha defesa, aegou preconceito, que eu tinha o direitoà opinião, afnal não era um crítico literário. Dividiram-se, os mais elitistas não aceitavam, então a discussão saiu da minha pessoa para algo diferente: letrista de música podia ser considerado um poeta? O primeiro que virou a casaca foi o meu chapa, ele argumentou que as letras de Chico Buarque eram pura poesia: "O cara que fez Construção é um poeta!". Outros falaram em Vinicius. Algupem falou que Bandeira sentia ciúme e inveja da letra que Orestes Barbosa fizera para "Chão de Estrelas". Outro lembrou da poesia dosamba "As rosas não falam" e coitaram ene letristas porretas. Mas o do oclinho apesar de concordar com alguns letristas geniais, cismou em não incluir Adelino Moreira, afirmou que este era um compositor apenas de músicas de roedeira e que não eram jóias do cancioneiro. O cara era exigente paca. Mas alguns defensores do português discordaram e alguém pôs o dedo na ferida: "Mas Noel, Antonio Maria, Lupiscínio, Dolores Duran e Chico Buarque tambem fozeram roedeira". E avançou: Por que vetar Adelino que fez cl´ssicos como Negueque encatou toda a nossa geração?". Logo um corinho de vozes começou a lembar as roedeiras de Adelino: "Choire Comigo!"., "Meu Dilema". Êxtase", "Deusa do meu bairro", "Escultura", "Argumento"... Um rebu, Adelino estava sendo reconhecido, a memória da tropaestava voltando, eles haviam roído ouvindo essas músicas. O meu amigo, o defensor de Drummond, dizia: "Porra, gente, eu tomei muita birita cantarrolando aFlor do meu Bairro,inclusive declamando aquele verso do inícoo da letra: "A minha história é vulgar, mas algofica provado, nem sempre o primeiro amor é a primera namorada". E cantarrolou um trechoda música: "Hoje depois de alguns anos/ Eu econtrei-me com ela/ Na rua dos desenganos/ Menos ingenua e mais bela/ Ela fingindo desejo/ A boca me ofereceu/ E eu paguei por um beijo que no passdado foi meu". Eváros cantarrolaram outras letras. Ficaram lembrando e entuiasmados. Estava apertado e fi ao sanitário. Na volta me encontrei com um sujeito que costuma cantar no local, pedi a ele para ir até a nossa mesa e cantar uma música. Ele foi, chegando lá pedi silêncio, e o cara deu um tom no violêo e emendou de primeira: "Boemia, aqui me tens de regresso...". Ia demorara farra, saí de fininho, satisfeitocom a consagração de Adelino Moreira, um poeta de verdade. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 02/12/2018
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