Amarcord matuto

Era um saudostas inveterado, viciado em assistir, repetidamente, a filmes sobre o pssado, notdamente "Amarcord" e "Cinema Paradiso". E, de vez em qiando, "Casablanca" para apreciar o charme dos anos 40. E relia à beça um trecho de um livro de Prooust em que o autor contava que ao mergulhar uma mdalena numa xpicara de chá, lembrou a cidade de sua infância. Vivia em meio a fotosantigas, objetypos obsoletos, livros sontando as folhas... Era um caso perdido.

Não que não vivesse o presente, Vivia e até gostava de vários avanços de hoje. Mas não esquecia o passado. Gostava de lembrar até, pasmem, os sofrimentos daquele tempo. Era um masoquista nostálgico. Na verdade, a sua saudade era pura nostalgia. Diz que nostalgia erasaudade chique.

Qualquer associação com pasado fazia com que começasse a rver o passado. As cenas vinham à sua mente aos borbotões. Era um frenesi incesante de recordações, ou como afirmava u saudoso amigo, "um cascatear de lembranças".

Sentado numa caeira de balanço. fixando um ponto imaginário no horizonte, lembrava, por exemplo, que na infância as doenças erm tratadas de forma diferente. Recordou da tortura que era picelar a garganta, das injeções de Angino Busmuto, do líquido horrível chamado "Emulsão de Scott" (tinha no rótulo um sujeito carregando nas costas um peixe enorme) e do óleo de rícino, sem esquecer de outra tortura: a aplicação no peito e nas costas de um al "Antifloristini", uma cera quente que colocavam em cima de papel de embrulhar mantegia e depois colocavam no corpo do infeliz. Na adolescência quando, da ocorrência de problemas com os "países baixos", apicava-se a terrivel injeção Bensetacil. Não parava por aí, e o motorzinho da pedal da broca do dentista? Doía mais que extrair um dente. Riu dessa sessão de horror.

Ah, a escola!, os beliscões da pofessoras, às vezes cascudos, castigos como ficar de pé ou de joelhos, além de copiar cem vezes a mesma frase, e ainda perder o recreio. Além disso mandavam u comunicado para a casa do coitado, dedando os pecadilhos e, aí, pimba!, a surra de cinturão eram favas contadas. Ea sabatina onde havia a famosa palmatória? A professporinha era terna mas também era braba que nem um siri.

A inveja: dos colegas riquinhos que tinham bicicletas, atins, carrinhos de corda e que toavam guaraná todo dia e comiam maçãs. Ele só brincava com brinquedos minchos e só tomava guaraná ou comia maçã no aniversário ou quando estava doente. E as roups e caçados? Os riquinhos só usavam rou pas finas, leves, gostosas e sapatos confortáveis, enquanto ele usava calças crtas e camsas cezidas, já rapazinho, as calças eram meio coronhas e aumentadas com emendas, os sapatos cambaios ou então a alpercata de rabicho. Depois veio a calça de tropical ordinário que espinhava paca, u a de diagonal qu tinha muita gomae arranhava. Rapazinho nçao podia comorar Bylcreme e aí asentava o cabelocom o popular Gumex, fcava diro como arame. Ah, a dolescênia, mas havia, felizmente, os sonhos.

E as musas? As mais bonitas sempre optavam pelos riquinhos. O jeito era se conformar com as menos belas, até mesmo com as sem graça nenhuma, afinal (conformismo dos conformimsos) o amor era cego e a verdadeira beleza era interior.Era preciso acrditar nisso. Mas ficava sempre um travo na garganta.

A descobertta do sexo: era uma maravilha descobrir o sexo, o desejo, a sensualidade, a tal "coisa feia". E tome o exercício solitário sonhando com nove entre as dez estrelas mais sensuais de Hollywood, e todos naquela base... Recorria-se também a fanasia com as musas bonitas e bem feitas da terrinha. epois dessa fase soitária vnha a hora do "vamos ver", ou seja, da prática. De repente procurava-se as Gradiscas (referência a do filme de Fellini), mas eram Gradiscas modestasas que na Hora H se lhe afifguravam tõ belas quando Magali Noel (a radisca do filme). A zona, à noite, tinha a aarência de um harém das mil e uma noites, cheia de uzes coloridas devido ao papel celofane nas luzes; suas dasmas (odaliscas) vestidas de forma extravagantee tdas inytadas fazendo poses sensuais. Dava um arrepio nos iniciantes. De manhã o local parecia um arruado sujo, acanhado, um fim de mundo, a realidade deletava o sonho. E as mulheres de da eram apagadas, desaparecia o charme, o fascínio, não eram maks Gradscas. Mas à noite o local era mágico e toda mulher parcia com Gradisca.

A religião: os padres atrrorizando afrmando que a masturação era pecado mortal e que fazia perder a memória e enlouquecer. Dava um desespero danado essa mentira religiosa, mas os instintos, os sentidos e os desejos venciam esse terrorismo religioso, essa maldade dos padres. Arriscava-se ir para o inferno e tambem mandava-se essa mentira da perda de memória e da loucaura para a lata do lixo. O único medo, já no tempo dos folguedos com as Gradiscas, era da injeção de Benzetacil.

O amor: este era o mais difícilde driblar. Eraum beque intransponível. O amor permeava a vida, grudava nela qye nem muçum. Era a razão da vida. Nada fascinava mas que o amor. Sempre foi o sentimento mais importante. O amor tornava o rapz um romântico incurável, ele fava ingênuo, sonhador, um Romeu. Como era gostoso viver o grande amor! O amor enlevava, alucinava, excitava. O amor era o mais gostoso frenesi. O amor era a marca registrada do passado.

O social: ah, o fascínio pelas idéias de esqerda. O sonho por uma sociedade mais justa, igualitária. Uma sociedade sem humilhados e nem ofendidos, sem explorados e sem explordores. Ansiava pela vitória do socialismo. Esse fascínio pelas idéias de esquerda só soria abalo quando era confrontado pelos floguedos próprios da idade. Nesse caso a ideologia dava uma farrrpada. Ainda adolescente, entendeu que viver era algo complexo, plural, diverso e que exigia liberdade.

Deu uma balançada na cadeira, lembrou o menino virando adolescente e o adolescente virando adulto, mas sem nunca deixar de ser o menino de calças curtas. odia estar com os cabelos embranquecidos, cansado de guerra, meo bambo, vestindo rou pas de adulto, piama... serrico ou pobre, possuir titulos, riqueza, poder ou sr apenas um cidadão com ele, pensou, mas jamais deixaria de ser o menino de calças curtas. O menino sempre prevaleceria em qualquer ocasião, era esse menino qem balizaa suas opiniões, reações e eoções. Na verdade, riu e pensou, somos apenas o moleque de rua do passado, com ma bola de brracha u de meia. bolasde gde, iões, calças crtas e pés descalços, sempre fazedo armações. A vida podia variar m poucoe mdar as pessoas, ofertar-lhes riquezas, poder, refrear emoções e impingir outro tipo de cultura, mas nao deletaria jamais o menino qe permanecia incrustrado em cada adulto, na sua mentee no seu coração. O menino era a sua alma. Era a maior parte do show da vida.

Sabia que a maturidade era apenas o amadrecimento do menino. Mas isso nçao apagava a memória e nem fazia esquecer as raízes. Lembrou uma frase de Potiguar Matos: "O hmem é o tempo e a saudade, o importante são as raízes, que o segura é a memória". Olhou para um retrato amarelecido na parede. Era um menino de calças curtas sentado numa cadeira de vime. u menino de cara amarrada, mas um menino feliz. Um mnino que apesar das suas limitações e dos poucos recursos de sua família, se julgava um nobre orque toda criança, seja qual for ela´, é um nobre. A criança é a responsável pelo equilíbrio do adulto.

Levantou ebotou um velho disco na radiola e Ataulfo Alves começou a cantar: "Eu daria tdo qe tivesse/ pra voltar aos tempos de crianaça/ Eu nçao sei porque a gente cresce/ Se não sai da gente essa lembrança...", marejou os olhos de alegria e felicidade. E disse baixinho: Amacord.Inté.

P.S. Amarcord é um filmaço de Fellini, significa em dialeto romaneu me recordo. Assistam a esse file, e assitam, of course, inema Paradiso.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 27/11/2018
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