Lembranças num pão velho
Muitas coisas dão prazer e alegria nessa vida de maneira diferente, indo lá no fundo das emoções, das lembranças, da saudade. Meu pai quando jogava um pão fora dava beijinho nele. Certamente era gesto com raiz nos seus tempos de prisioneiro no Campo de Concentração, na Polônia, quando poder comer um pedacinho de casca de batata era motivo de comemoração. Cresci me espelhando nessa atitude e hoje aquelas cenas, passadas há mais de 50 anos, vieram à tona com vigor de águia indo pegar sua presa. Como todos os domingos, fiz o almoço pra família e hoje teve arroz de forno, com queijo, presunto, ervilha, milho e molho de tomate. Peguei o queijo e presunto que sobraram e coloquei em pedacinhos sobre fatias de pãozinho velho, temperei com azeite e levei ao forno. Ficaram deliciosos, a turma de casa adorou. O farelo resultante das fatias foi cuidadosamente preservado pra deleite da nossa cachorrinha Mel, que também amou. Lembrei muito do meu pai quando preparava esse lanche, simples e gostoso, da noite de domingo. Lá, onde estiver, deve estar curtindo também com a gente. Afinal, se não fosse por ele, esses momentos deliciosos nunca teriam existido.