C o c o r o t e s

Como estamos na iminência de voltar aos valores educacionais do passado, a escola sem partidos é ma prova disso, nada como a gente lembrar do passado onde o politicamente correto era quase fruta braba, mas aquilo não era uma política de estado mas a cultura de uma época. Bom, vamos à maltraçada.

Sou, evidentemente, um sujeito que nçao esquece o passado. Não há um só dia que não relembre aquela vidinha de antigamente. E, mesmo atrasada, cheia de preconceitos e tabus, sinto saudade dela. Detalhe: não havia essa tensão e mana de consumismo de hoje, vivia-se mais. Juro.

Quando vejo pessoas discutindo sobre educação dos filhos, o que se deve ou não se fazer, `ss vezes se recorrendo a inovações que me espantam, eu recordo de minha avó paterna (naão conheci a materna, esta morreu quando minha saudosa mãe ainda era menina). Mas da minha avó paterna lembro demais. Era muito divertida, um doce, mas... era linha dura. Não agientava mimimi, nem fazia dengo, nem passava a mão na cabeça de neto nenhum.

Para ela educar filho tinha que ser na rédia curta. Gostava muito dos netos, mas não desculpava malfeito. Pisou na bola, ela incitava os pais a aplicar o devido corretivo. Quando um deles hesitava ela dizia: - Deixe de ser frouxo (quando se tratava de filho) e dê logo uas lapadas nesse moleque. Vá! Vá logo e de uma pisa nele. E ainda dizia que isso só faria bem ao neto. Detalhe: apesar de ser linha dura todos os netos a adoravam. Palavra de honra.

Uma das vezes que assiti a um icitamento dela à aplicaçãode um corretivo não foi em relação a um filho ou filha, mas a uma neta, minha irmã mais velha. Eu estava na casa dela, lembro que até comendo uma macarronada com dois oião em cima e queijo de coalho ralado, especialidade da irmã, quando um dos seus filhos, bisneto de minha avó que estava presente fez, como dizíamos naquele tempo, "uma arte", quebrou um jarro de estimação, já tinha sido advertido para anao correr em vota da mesinha onde estava o jarro. Admito que foi uma traqinagem cabeluda, merecia ficar sem brincar por uma tarde. Mas a minha avó, bisavó do menino, exigiu da minha irmã o devido corretivo, meia dúzia de cocorotes com força na cabeça do menino. Minha irmã quis trocar pelo castigo, mas a velha ficou irredutível e avançou na exigência: - Se você não der os cocorotes no menino nunca mais venho na sua casa! Minha irmã não tve dúvida, pegou po menino e deu a meia dúzia de cocorotes (aqueles cascudos com os nós dos dedos). O menino era apelidado de Géo, era levando os cascudos e gritando de dor, mas nao ficou só nisso. O irmão dele Toni mais velho um ano, devia ter uns sete anos, etava caladinho brincando com um carrinho de lata quando a miha avó disse séria: - Gisa (minha irmã) dê tamabém meia dúzia de cocorotes em Tonho (chamava Toni de Tonho). Minha irmã argumentou: - Mas, Vó, ele não fez nada. Ela esclareceu: - Mas, criatura, levando os cocorotes aí é que ele nunca vai fazer nada. Cocorote em menino só ajuda, nao faz mal, é como caldo de galinha e sopinha de feijão. A irmã, pasmem, deu a meia dúsia de cocorotes em Toni. Peddi o apetite, deixei a macarronada na metade. Saí reclamando, mas a minha avó só ria e dizia que eu era um bunda mole.

Mas apesar de linha dura, repito, a minha avó era um doce de pessoa. Eu nunca a esqueci.Inté.

P.S. Nao duvido que a Escola sem Partidoincorpore a filosofia educacional de minha avó.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 22/11/2018
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